A fusão entre a BM&FBovespa e a Cetip, anunciada no início do mês de abril, vai abrir mais uma janela de oportunidades para o mercado de energia. A operação traz a possibilidade do registro e a liquidação dos contratos serem feitos de forma multilateral em um único ambiente. Contudo, a liquidação financeira multilateral, com garantia de pagamento, só acontece através de uma clearing house, e a única existente no Brasil pertence à BM&FBovespa. A Cetip acompanha a liquidação financeira das operações, mas a garantia de crédito dos negócios operados lá é bilateral, com as duas partes correndo o risco de pagamento da outra.
De acordo com Marcelo Parodi, sócio da Compass Energia, a fusão vai trazer mais transparência e liquidez para os contratos de energia no mercado, já que o ambiente em que os contratos estavam registrados passam a fazer parte da mesma empresa que faz a liquidação multilateral. "Quando você parte para um ambiente de liquidação multilateral, essa operação é garantida financeiramente por um sistema de depósitos de garantias que as partes fazem", explica.
No fim do ano passado, a Compass deu início a uma operação inédita no mercado com a Polo Capital Management, em que ela atraiu agentes financeiros para investir em contratos de energia elétrica, de modo a transformar o ativo físico em risco. Essa operação foi registrada na Cetip. A comercializadora conseguiu proporcionar para o fundo da Polo uma liquidez em linha com o preço da energia para 2016, gerando o resultado desejado.
Parodi conta que essa ampliação no mercado de comercialização de energia para players financeiros vai abrir o leque de agentes de modo significativo. "O mercado americano passou a ter um multipolo negocial oito vezes maior que o que era negociado no mercado físico. Existe a possibilidade de um ganho de liquidez muito grande", avisa ele. Levantamento feito por Parodi mostra que o mercado livre no Brasil transaciona cerca de R$ 13 bilhões por ano. Caso a ampliação siga o ritmo da norte-americana, poderia chegar a R$ 107 bilhões nos mesmo oito anos.
Quem também vai se beneficiar da fusão BM&FBovespa-Cetip é a plataforma de negociação Brix. Segundo Parodi, a plataforma, que foi lançada em 2010, obteve autorização da Comissão de Valores Mobiliários para negociar contratos financeiros em tela, e já assinou um protocolo de intenções com a BM&FBovespa visando a utilização dos serviços de registro e liquidação. Com essa fusão, ela conseguiria interligar o sistema de negociação da Brix – que já está autorizado pela CVM – e integrar com o da BM&F, podendo no futuro já fazer a liquidação financeira dessa operação através da câmara de compensação da própria BM&F. "Para a Brix a fusão foi muito positiva, porque ela vai ter um único interlocutor para negociar as fases restantes do seu projeto inicial", ressalta.
No futuro, com apenas um clique na tela, os interessados poderão transacionar energia com transparência e segurança. A liquidação multilateral seria a última etapa de todo esse processo de evolução. Ela eliminaria o risco de crédito bilateral, o que segundo Parodi, também afeta a liquidez dos contratos.