Estudo financiado pela embaixada britânica sobre energia hidrocinética na região Norte revelou potencial de ampliação da capacidade instalada da usina hidrelétrica de Curuá-Una, no Pará, em 2,4 MW, o que pode representar até 13,2 GWh/ano a mais de energia produzida pelo empreendimento. O mapeamento do potencial remanescente também foi feito por pesquisadores do Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas e da Universidade Federal de Itajubá (MG) na UHE Samuel, em Rondônia, mas os resultados foram considerados insuficientes pela baixa velocidade das água do rio Jamari, onde está localizada a usina. 

A energia hidrocinética é resultante do fluxo natural da água e pode ser produzida em um canal natural ou artificial, tanto em rios quanto em oceanos. Ela é gerada a partir de instalação de uma ou mais turbinas submersas, cujo rotor é movimentado pela correnteza. “É uma energia remanescente, que já passou pela barragem. Essa energia, de certa forma, esta sendo perdida’, explica o pesquisador Júlio Cesar Silva de Souza, da Unifei.
 
Doutor em engenharia mecânica, Souza integrou a equipe de profissionais que realizou o levantamento de campo e produziu toda a modelagem computacional para o cálculo do potencial hidrocinético das usinas. O trabalho foi feito em trechos localizados logo abaixo das barragens. A equipe coletou dados de batimetria do leito dos rios, o perfil da velocidade da água nos trechos escolhidos e a topografia da área seca das margens. O objetivo era determinar as áreas de maior velocidade e com melhor topografia para instalação de turbinas hidrocinéticas.
 
No mapeamento abaixo da barragem de Samuel a velocidade máxima atingiu 1,5 metro por segundo; enquanto em Cuaruá-Uma  foram registradas velocidades entre 2,5 metros e 5 metros por segundo, em situações de cheia e em pontos onde as margens eram mais estreitas. O estudo nas duas usinas da Eletronorte é pioneiro, mas não é inédito. Outro levantamento começou a ser feito há mais tempo pela própria estatal na hidrelétrica de Tucuruí, mas os resultados ainda não foram diivulgados.
 
O que é, a princípio, um projeto piloto, pode ser estendido a outros empreendimentos da região, na opinião do pesquisador. Nem todos as hidrelétricas terão, no entanto, esse potencial, especialmente se a velocidade da correnteza for muito baixa. No caso específico de Curuá-Una, é uma energia que pode atender a população ribeirinha, por exemplo. “É um trabalho de formiguinha mesmo. Se cada usina aproveitar esse potencial que tem remanescente, esse somatório pode contribuir para você ter uma alternativa de energia com a velocidade do rio”, afirma Souza. 
 
Estudos sobre geração de energia hidrocinética são feitos há cerca de 30 anos no mundo, mas a alternativa nunca foi prioridade no planejamento de expansão do sistema. O diretor de programa da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Gilberto Hollauer, disse, durante evento de apresentação do estudo na sede da Eletronorte, que o aproveitamento dessa energia é natural em empreendimentos instalados, mas o planejamento tem que considerar “o foco principal, o mainstream, que é produzir energia para atender o crescimento econômico.”  Fora isso, tem as energias alternativas. “É importante colocar energia barata no sistema. Senão, a economia deixa de ser competitiva. Nosso compromisso com a energia alternativa se baliza pela segurança energética e pela energia competitiva”, destacou Hollauer.