Mesmo diante de um ambiente de recessão econômica e de baixo consumo de eletricidade, a Associação Brasileira de Energia Eólica acredita que o nível de contratação da fonte será de 2 GW neste ano. “A ABEEólica não visualiza uma baixa contratação da fonte eólica em 2016”, afirmou a presidente executiva da associação, Élbia Gannoum, que estará presente na décima terceira edição do Encontro Anual de Agentes do Setor Elétrico (Enase), no Rio de Janeiro, entre os dias 18 e 19 de maio. Em entrevista à Agência CanalEnergia, a executiva falou sobre o final do processo de nacionalização estabelecido pelo BNDES e sobre os desafios do setor de transmissão e como isso tem impacto o mercado de geração. Confira a seguir a íntegra da conversa.
Agência CanalEnergia – Em janeiro de 2016 terminou o prazo estabelecido pelo BNDES para nacionalização dos equipamentos pela indústria eólica. Qual foi o resultado final desse processo e quais pontos podem ser destacados?
Élbia Gannoum– As novas regras do Finame (BNDES), publicadas em janeiro de 2013, representaram um grande avanço para indústria eólica nacional, porque contribuíram em grande medida com o desenvolvimento tecnológico nacional e com a qualificação de uma mão de obra técnica brasileira. Com o grande desafio de nacionalizar componentes importantes do aerogerador no período de 2013 a 2016 a indústria eólica inaugurou várias fábricas além da expansão de fabricas existentes. Muitos dos fabricantes concluíram o processo gradual de nacionalização qualitativa dos componentes utilizados na indústria eólica, meses antes de ser encerrar o prazo determinado para tal nacionalização. Como consequência destas exigências podem ser destacados as inaugurações das fábricas em território nacional, como por exemplo: Belgo Bekaert Arames & ArcelorMittal Osasco/SP, SKF Cajamar/SP, TEM Jacobina/BA; e a criação de empregos pela indústria eólica.
Agência CanalEnergia– Como o setor eólico tem contribuído para a econômica nacional?
Élbia Gannoum – Considerando o momento de forte crise econômica no qual o Brasil se encontra, o setor eólico tem sido uma oportunidade para muitas empresas (especialmente as que atuam na área do Petróleo e Gás) diversificarem suas atividades e evitarem o processo de demissão de seus funcionários. Por este motivo, é possível afirmar que, para além das contribuições positivas já conhecidas, o setor eólico ainda auxilia para o não agravamento da situação econômica e social Brasileira. A indústria eólica nacional é responsável por criar 15 postos de trabalho, em toda a cadeia produtiva, para cada MW eólico instalado. Desta maneira, considerando os atuais 9GW instalados na matriz elétrica nacional, a fonte eólica já foi responsável por criar mais de 130 mil empregos em todo o país.
Agência CanalEnergia– Como os associados da ABEEólica estão avaliando a continuidade dos investimentos no Brasil em um contexto de sobras de energia por conta da recessão econômica?
Élbia Gannoum – As empresas estão acompanhando com atenção o cenário de sobra de contratos das distribuidoras. Porém, o que se sabe é que no contexto de suprimento de energia elétrica há necessidade de contratação. Neste ponto, é necessário esclarecer que, no ambiente de contratação de potência elétrica, há diferenças entre o volume de contratos existentes e a geração efetiva da energia previamente contratada. Apesar da crise econômica atual, em breve o Brasil começará a se recuperar e a crescer. E neste momento precisará de energia suficiente para sustentar tal crescimento. Contudo, esta energia elétrica que será necessária não pode ser colocada em produção de forma instantânea. Portanto, há necessidade de contratação, mesmo que seja Energia de Reserva para manter a segurança de suprimento no Sistema Interligado Nacional – SIN, e evitar um possível racionamento.
Agência CanalEnergia- Qual é o impacto de uma baixa contratação da fonte em 2016?
Élbia Gannoum – A ABEEólica não visualiza uma baixa contratação da fonte eólica em 2016. Com o leilão A-5, que ocorreu no mês de abril e o Leilão de Reserva programado para outubro, há a expectativa de contratação anual de 2GW, meta que mantem a indústria eólica já consolidada e plenamente apta para atender às exigências do FINAME, do BNDES.
Agência CanalEnergia– A falta de transmissão no prazo adequado para o setor está se tornando um problema cada vez mais grave. Como os associados da ABEEólica têm se articulado com o governo e com a Aneel para apresentar uma alternativa para esse gargalo?
Élbia Gannoum – A ABEEólica tem mantido um diálogo com governo e também com a Aneel com o intuito de contribuir com soluções em relação à expansão dos sistemas de transmissão. Algumas empresas estão propondo reforços em sistemas de transmissão já existentes e nos próximos meses a ABEEólica entregará uma série de estudos, contratados pela própria associação, com avaliações e propostas, inclusive de modelos, para expansão do sistema de transmissão brasileiro.
Agência CanalEnergia– Por quê a audiência pública 12/2016 pode ser uma boa oportunidade para os geradores eólicos?
Élbia Gannoum – A AP 012/2016 tem por objetivo obter subsídios para o aprimoramento da minuta de resolução normativa referente aos mecanismos de adequação dos níveis de contratação de energia por meio de acordos bilaterais. Assim, esta AP trata da possibilidade de geradores e distribuidores tratarem de forma bilateral seus contratos (CCEARS) suspendendo, cancelando e reduzindo a contratação. A ABEEólica entende que podem existir, em alguns casos, uma contribuição mútua para as distribuidoras e para os geradores eólico, no sentido de atender uma necessidade interna do setor eólico com a postergação, cancelamento ou redução contratual.