A tese de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social não terá condições de continuar bancando sozinho quase todos os grandes financiamentos do país, incluindo aí os de infraestrutura, principalmente sem ajuda do Tesouro Nacional, não reflete a realidade econômica do banco. A avaliação é de Fernando Camargo, sócio-diretor da LCA, uma das maiores consultorias econômicas do Brasil. Segundo ele, os recursos que foram emprestados nos últimos quatro anos, com o apoio do Tesouro Nacional, começam a ser repagos agora – amortização mais serviços de juros.

"Já passou o período de carência e esses recursos começam a voltar e eles passam a ser os recursos mais importantes para formar o funding do banco", comentou o executivo em entrevista à Agência CanalEnergia durante o 13º Encontro de Agentes do Setor Elétrico, que aconteceu nos dias 18 e 19 de maio, no Rio de Janeiro. Esses recursos, calcula Camargo, somam entre R$ 110 bilhões e R$ 120 bilhões por ano, que é um patamar sustentável para os próximos anos.

O consultor conta que a devolução para o Tesouro dos aportes no banco só serão feitas daqui a 30 anos. "Então, desde que não haja uma mudança de política a ponto de alguém sugerir que o pagamento ao Tesouro tenha que ser feito antes, ele já tá contratado lá no longo prazo. Se alguém quiser antecipar o pagamento, aí pode ter problema de funding", analisou.

O BNDES já chegou a financiar até R$ 180 bilhões em um ano. Mas, em 2015, dada a recessão, o patamar caiu, segundo Camargo, para algo em torno de R$ 140 bilhões e continua em franco recuo. "Os pedidos de financiamento para 2016 são metade do que eram no começo de 2015, o que mostra uma retração da demanda por financiamento", apontou. "Quando se combina a curva de demanda mais baixa com a curva de oferta de funding mais alta, porque os recursos já estão voltando e, portanto, a carteira está se renovando, dá para fazer o financiamento tranquilamente por alguns bons anos enquanto a economia não voltar a crescer fortemente", completou.

De acordo com Camargo, ainda que a economia volte a crescer num ritmo maior nos próximos anos, o banco ainda tem a possibilidade de direcionar prioritariamente os recursos para o segmento de infraestrutura, que já é um setor prioritário. "Na prática, o problema de funding do BNDES não é um problema nas condições atuais. É mais ou menos como a gente falar que havia risco de racionamento há dois anos. Ele existia de fato, mas com a demanda no patamar atual não existe mais. Esse mesmo mecanismo funciona para o BNDES", afirmou.

Camargo comentou que o banco ainda pode contar com o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), porque por lei uma parcela desses recursos tem que ser direcionada ao BNDES. "Com a economia caindo, esses recursos caem, mas não desaparecem", disse. O banco pode contar também com recursos do Tesouro que não foram dados em dinheiro, mas em títulos líquidos, que vencem agora. "A rigor, o BNDES pode trocar esses títulos por dinheiro e isso pode ajudar ainda mais a situação de caixa no curto prazo. Mas, mesmo se ele não puder contar com isso por algum motivo – caso o Tesouro queira resgatar esses títulos sem dar nada em troca, como se fossem um pagamento antecipado da dívida -, ainda assim os recursos no curto prazo são suficientes para bancar a infraestrutura nos níveis de pedidos de financiamento atuais", declarou.