O elevado endividamento da Cemig, que ao final do primeiro trimestre do ano alcançou 4,25 vezes a relação entre a dívida líquida ante o resultado operacional medido pelo ebitda (antes de juros, impostos, depreciação e amortização) deverá levar a companhia mineira a buscar atuação em seu core business que é geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia. Com a meta de reduzir o indicador para algo abaixo de duas vezes, a empresa está buscando desinvestimentos ou sócios que são operadores em áreas diferentes dessas que foram delineadas pelo presidente da companhia, Mauro Borges.

“Temos trabalhado (…) uma revisão do planejamento estratégico da empresa para atender os novos desafios”, afirmou o executivo em evento da Apimec realizado pela empresa em sua sede e transmitido via internet. “Nosso objetivo é recuperar a sustentabilidade econômico-financeira e seu valor de mercado (…) a alavancagem chamou a nossa atenção e é um ponto que consideramos de grande relevância para o valor da companhia. A redução do endividamento é crítico para a estabilidade da empresa no médio e longo prazo”, discursou ele na abertura do evento.
Entre as medidas que a estatal mineira tem no foco de atuação, além da venda de ativos ou de participação, está o aumento da produtividade e redução das despesas operacionais e coberturas regulatórias. Segundo Borges, a Cemig vem enfrentando há algum tempo dificuldades em se adequar aos custos regulatórios, um fato que ele classificou como um desafio enorme, ainda mais pelo tamanho da distribuidora, que é muito grande.
Na Cemig-D, que possui cerca de 8 milhões de unidades consumidoras, a empresa tem procurado renegociar contratos tendo apurado uma redução e 10% a 20% nos valores. O que não foi possível de rever teve o acordo rescindido e o fornecedor trocado. Outra medida é a implementação de programas de demissão voluntária e rolagem da dívida da distribuidora ao mesmo tempo em que busca manter-se nas métricas de qualidade definidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica após a renovação do contrato de concessão por um período de 30 anos.
O diretor Financeiro e de Relações com Investidores da empresa, Fabiano Maia, repetiu o discurso do presidente e classificou o momento como desafiador mas destacou que o acionista compreende que esse é um dos segmentos indicados como core business por meio de um aporte de cerca de R$ 500 milhões.
Outro ponto questionado foi a participação da Cemig na Light. A estatal afirmou que o planejamento estratégico para a distribuidora carioca foi finalizado e que a concessionária é o veículo de crescimento da Cemig em distribuição no país, por se tratar de uma atividade prioritária e que questões acerca de venda não precisam em ser colocadas, porque não há a possibilidade de saída da Light.
Sobre as três usinas que a Cemig optou por não renovar os contratos de concessão, a companhia busca um acordo com o governo, mesmo para São Simão que já opera em cotas. A discussão já está no STF e o relator é o ministro Dias Toffoli. Segundo Mauro Borges, a empresa, que pediu cancelamento da reunião de conciliação sobre a UHE Jaguara, espera pela melhor oportunidade para retomar a discussão no STF, sem estabelecer um prazo para isso. E ainda, como apenas essas três usinas possuem a mesma cláusula contratual, a solução poderia ser replicada ainda para São Simão e Miranda.