O setor eólico discute formas e alternativas para buscar novas fontes de financiamento, além do atual, que ainda é o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social. Esses instrumentos existem e estão disponíveis, mas a questão fundamental é custo desse capital, que é considerado inviável atualmente, ainda mais diante o atual cenário político e econômico que o Brasil atravessa. Uma saída seria a mudança nos PPAs dos leilões de reserva permitindo a cobrança de parte da receita em dólares para mitigar o risco cambial e atrair os recursos que estão em mercados internacionais.

Na discussão sobre as perspectivas para o financiamento do setor eólico, painel realizado durante o 5º Encontro de Negócios da ABEEólica, nesta quarta-feira, 25 de maio, em São Paulo, agentes financeiros e geradores apontaram o momento crítico pelo qual o país passa. Um dos motivos é o grande volume de projetos que estão em desenvolvimento e que esse volume de projetos chegou ao mercado em um momento econômico delicado.

Na abertura do evento, a presidente executiva da entidade, Elbia Gannoum destacou que apesar de ser a ilha de prosperidade no país, mesmo a indústria eólica começou a ser abalada pela situação macroeconômica e política. Mas, ressaltou que começa a ver a alteração desse cenário ao apontar que já há fundos que voltaram a considerar investimento no Brasil. A chegada desses novos recursos para funding de projetos é necessária no país. Na avaliação de Marcos Meireles, CEO da Rio Energy, há um aumento dos custos financeiros para os investidores, principalmente, porque o prazo para a liberação dos recursos por parte do BNDES está mais extenso e isso exige maior gasto para manter empréstimo-ponte e a fiança bancária. Essas alterações de prazo, contou ele, impactam no custo final dos projetos.

“Todos os investidores com planejamento adequado não se desviam do capex e do cronograma”, comentou ele. “Contudo, temos visto maiores custos financeiros por imprevisibilidade de desembolsos do financiamento do BNDES e as debêntures de infraestrutura”, indicou. Marcelo Girão, chefe de Project Finance em Energia do Itaú, lembra que o custo para os investimentos no mercado financeiro do país aumentou. Esse movimento ocorreu porque as exigências aumentaram em termos de crédito e de spread, que já vinham subindo no último ano.

Um dos caminhos alternativos para buscar novos recursos está na atração de empresas e investidores individuais. O executivo do Itaú destacou que há três figuras que precisam ser incluídos nesse setor. São eles, os fundos de pensão, empresas de asset management (que tem uma perspectiva de investimentos de menor prazo que a exigida no setor eólico) e pessoas físicas, que não entendem com clareza o risco de aportar em debêntures de infraestrutura para o setor. “O mercado precisa buscar maior transparência e segurança para que o papel seja mais atrativo para esses investidores”, afirmou Girão. Mesmo assim, disse ele, o BNDES ainda é o detentor da maior capacidade de desembolsos no país.

Na avaliação do chefe de Project Finance em Energia no banco Santander, Edson Ogawa, o financiamento direto com bancos comerciais é naturalmente mais elevado que o BNDES e a capacidade de atender a demanda ainda é limitada diante da grande demanda que existe no Brasil. Ele disse que se o governo decidir pela redução do banco de fomento federal nos projetos, isso deveria se dar de forma gradual. “Tem que chegar nos bancos e no mercado de investidores para conversar e ver qual é a  capacidade de absorção dessa demanda” relatou .

Meireles, da Rio Energy, destacou que, diante desse cenário, é preciso quebrar paradigmas e uma das saídas poderia estar na dolarização dos contratos de aquisição de energia assim como já se faz com a energia de Itaipu. “Assim, se pegasse parte desses contratos em dólar era possível acessar o mercado internacional, o que no longo prazo pode ser interessante e faria sentido, fazendo uma composição com funding do BNDES e outros bancos estrangeiros para captar recursos. Na União Europeia há bonds a taxas negativas ao se descontar a inflação nessa região. Pensar em parte dessa receita do LER em dólar traria impacto positivo até em tarifas ao consumidor no longo prazo, ainda mais para projetos em renováveis, que estão em voga no mundo todo”, comentou. Até porque, o Brasil tem atraído capital de empresas internacionais como a Voltalia que é francesa, assim como a EDF, a italiana Enel Green Power, a sino-portuguesa EDP renováveis entre outras.

Segundo Ogawa, do Santander, a dolarização dos contatos de energia deveria ser pensado e analisado porque se tiver isso os investidores conseguiriam acessar bolsos com muito dinheiro no exterior. Contudo, a consequência natural é de que o custo seria repassado ao consumidor final. “Isso não poderia ser absorvido pelo gerador nem pela distribuidora. A conclusão não é tão óbvia em risco de volatilidade cambia que seria mais caro quando comparado ao que se faz hoje. Se o BNDES não puder apoiar todos os leilões, teremos que acessar o mercado financeiro, sem subsídios, e com isso o custo também aumentaria”, explicou.

O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, disse que não se opõe à dolarização dos contratos de energia no país. Segundo ele, no evento da ABEEólica, o Brasil estaria pronto para conviver com essa figura, diferentemente de quando houve a introdução do plano real ainda em 1994.