A Eletronorte procura parceiros para o desenvolvimento e a fabricação de turbinas destinadas à instalação de um parque gerador hidrocinético abaixo da hidrelétrica de Tucuruí. Estudo coordenado pela Universidade de Brasília com a participação das universidades federais do Pará, do Amapá, do Triangulo Mineiro e do Rio de Janeiro em um trecho de 2 km do rio Tocantins concluiu que poderiam ser instaladas no local nove maquinas de 500kW, com a montagem de um parque de 4,5 MW de potência instalada.

A partir dos resultados desse levantamento, a estatal lançou no mês passado chamada pública para o desenvolvimento de um protótipo de turbina com 5 metros de diâmetro, destinada à geração de energia com potência nominal de no mínimo 100 kW, a partir da velocidade de fluxo da água de 2,5 metros por segundo. A potência da maquina foi diminuída, mas as especificações podem ser replicadas para turbinas maiores. No caso da unidade de 500 kW, o diâmetro da turbina seria em torno de 11 metros.

O resultado do processo de escolha do fabricante deve ser anunciado no dia 8 de agosto. Ele é parte do projeto de pesquisa e desenvolvimento que trata de turbinas hidrocinéticas para o aproveitamento do potencial remanescente de energia em usinas hidrelétricas. Manifestaram interesse em participar da chamada pública as empresas Andritz; Delp; o conjunto formado por Hubz, Fox Oil, Enersud e Aero Alcool e a BBEng Engenheiros Associados.

“Pretendemos construir um parque hidrocinético em Tucuruí assim que sair a cabeça de série desse projeto”, afirma o gerente executivo de Engenharia Eletromecânica de Geração na Eletronorte, Carmo Gonçalves. O engenheiro destaca o baixo impacto ambiental do projeto, que pretende aproveitar o potencial remanescente de energia da UHE Tucuruí, que tem 8,4 mil MW de capacidade instalada. O levantamento no rio Tocantins ganhou o nome de Projeto Tucunaré.

Gonçalves conta que os estudos de P&D voltados para a hidrocinética começaram em 2002. Em 2004, a empresa começou a desenvolver uma malha de alta eficiência, com uma micro turbina denominada turbina hidrocinética de geração III. No inicio de 2012, foi iniciado o estudo da máquina de grande porte no Projeto Tucunaré, sempre com a UnB, a UFPA e outros parceiros. O valor aplicado hoje pela estatal é da ordem de R$ 5,5 milhões.

“O estudo foi completo. Fez a pesquisa do rio, de resistência dos materiais, pesquisa hidrodinâmica, pesquisa da pá, do rotor, do conjunto eletromecânico todo. Isso dai está pronto. Temos que entrar na pesquisa da engenharia de um fabricante para fazer  a máquina e testar”, relata o gerente da Eletronorte. O trabalho resultou em dois pedidos de patente, que serão protocolados pela estatal. “Já temos pedidos para turbinas menores”, informa Carmo Gonçalves. Ele explica que a máquina pode ser escalonada desde 1 MW até 100 kW. “A teoria permite, por semelhança, que nós tenhamos diferentes tamanhos de máquinas com a mesma tecnologia.”

Embora a princípio os estudos considerem o potencial adicional da correnteza dos rios abaixo de usinas hidrelétricas, a energia hidrocinética pode ser explorada em qualquer rio com profundidade acima de 5 metros e velocidade superior a 1 metro por segundo. Entre as vantagens apontadas por seus defensores, além do impacto ambiental “praticamente desprezível”, estão a produção de energia o ano todo e o alto fator de capacidade (90%). 

No caso de usinas eólicas, esse fator chega a 35%, enquanto nas usinas fotovoltaicas chega a 25%. “Ela não tem necessidade de construir barragem nenhuma. Essa máquina só pode ser comparada com a turbina eólica, porque ela seria semelhante a uma turbina eólica com maior rendimento, eficiência, e colocada na água. Ela converte a energia da correnteza do rio em energia elétrica. Pode ficar flutuando ou presa no fundo do rio, na  margem, ou num flutuador”, detalha Gonçalves

Estudo realizado para uma dissertação de mestrado na UFRJ concluiu que o potencial hidrocinético marítimo do Brasil é de 190 mil MW. Esse valor é superior ao parque gerador instalado no Brasil, de 151 mil MW. Na parte fluvial, há muitos estudos em andamento. Além de Tucuruí, a Eletronorte já concluiu o levantamento nas hidrelétricas de Samuel (RO) e de Curuá-Una (PA), mas apenas nesta última foi identificado potencial de 2,4  MW, ou até 13,2 GWh/ano a mais de energia produzida  pelo empreendimento. Outro estudo contratado pelo pessoal da UHE Itaipu identificou potencial de 40 MW em 16 km do rio Paraná.