O Preço de Liquidação das Diferenças do Sudeste/Centro-Oeste e do Sul deverá subir a partir de julho. Isso porque, atendendo a uma recomendação da Agência Nacional de Energia Elétrica, o Operador Nacional do Sistema Elétrico vai incorporar ao Newave as restrições operativas praticadas nas hidrelétricas de Sobradinho e Três Marias, localizadas no rio São Francisco. Em Sobradinho, por exemplo, a defluência mínima considerada no Newave é de 1.300 m³/s, mas a realidade praticada na usina é de uma vazão de 800 m³/s. No caso de Três Marias, as defluências variam mês a mês. Para julho, o valor a ser utilizado deverá ser de 320 m³/s.
"No Decomp, o ONS já utilizava 800 m³/s, mas no Newave continua 1.300 m²/s", contou o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, à Agência CanalEnergia. O Decomp é o modelo que olha a operação dois meses à frente, enquanto o Newave, cinco anos à frente. Segundo Barata, já se sabe que, pelo menos até dezembro, essa defluência não irá mudar e, por isso, ela será considerada no modelo até o fim do ano. "Ainda assim a gente está sendo conservador, porque a partir de janeiro volta para 1.300 m³/s, quando na verdade, todo mundo acha que vai continuar [a defluência em 800 m³/s]", comentou.
Em uma carta enviada pelo ONS à Aneel e que a Agência CanalEnergia teve acesso, o operador fez estimativas do aumento do Custo Marginal de Operação, tomando como base os valores de junho. Na média, o CMO passaria na primeira semana de junho de R$ 40,07/MWh para R$ 66,03/MWh no SE/CO, aumento de quase 65%, com a incorporação das restrições. No Sul, o preço médio passaria de R$ 36,04/MWh para R$ 61,66/MWh, elevação de mais de 70%.
O ONS fez simulações ainda caso as restrições fossem incorporadas no modelo até abril de 2017. Nesse caso, o impacto das restrições no CMO seria ainda maior. Na primeira semana de junho, o CMO médio teria sido no SE/CO de R$ 82/MWh, enquanto que no Sul, de R$ 76,83/MWh. Segundo a Aneel, a recomendação foi para a utilização dos valores de defluência no São Francisco pelo menos até dezembro de 2016. "A partir desta data é discricionário do ONS manter a utilização dos valores", informou a Aneel. Barata, do ONS, garantiu que, no momento, a incorporação no modelo será apenas até dezembro, começando no Programa Mensal de Operação de Julho, cuja reunião acontecerá nos próximos dias 23 e 24 de junho.
"Isso aumenta o custo de operação porque está aumentando a restrição. A restrição durava dois meses e agora está durando seis meses", explicou o diretor-geral do ONS. De acordo com a Aneel, a orientação visa representar nos modelos de otimização dados mais fidedignos à realidade operativa.
Marcelo Parodi, sócio-diretor da Compass Energia, avalia que a medida é uma adequação que precisava ser feita para que o modelo fique aderente à realidade operacional. No entanto, ele se mostrou incomodado com a forma repentina com que isso foi realizado. "Isso está acontecendo há dois anos e nunca tinha sido mudado. Agora isso vai ser feito de forma repentina e sem nenhuma discussão com os agentes", apontou o executivo.
Ele disse ainda que isso vai acarretar em um impacto grande no preço. Testes realizados pela comercializadora mostram uma alta no PLD de julho em torno de 50%, caso a medida se mantenha apenas até dezembro. Parodi reclamou ainda do fato da carta ter sido encaminhada apenas à Chesf e à Cemig – donas das usinas – no dia seguinte ao envio à Aneel, visto que ela contém informações que são relevantes para todo o mercado.
Segundo ele, a medida impacta toda a curva futura de energia, afetando os preços dos próximos anos. Além disso, diz o executivo, a medida afeta ainda todos os cerca de 2 mil consumidores que estão em processo de migração para o mercado livre. "Os consumidores livres que estão em processo de recontratação de energia também vão ser impactados por isso. Além disso, isso tem um desdobramento muito grande do ponto de vista do impacto econômico de preços de energia mais altos, não só para o mercado livre, mas esse preço afeta GSF, que acaba sendo repassado para a tarifa cativa também", avaliou.