O executivo Wilson Ferreira Junior confirmou que foi convidado para presidir a Eletrobras e disse estar honrado por fazer parte do time que está sendo montado pelo ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho. Ferreira Junior, que está de saída da CPFL Energia após ficar 18 anos na companhia, disse que recebeu o convite na noite da última terça-feira, 21. "Sim, me disponibilizei para avançar. É uma coisa que me honra muito fazer parte do time que está sendo montando. Um time de gente que de fato pode ajudar", disse o executivo em entrevista exclusiva à Agência CanalEnergia.
 
"O ministro tem feio uma coisa rara ao procurar formar uma equipe de muitos técnicos com relevante experiência. É o caso do [Luiz] Barroso que está indo para EPE, do [secretário-executivo do MME] Paulo Pedrosa que tem experiência no mercado, do próprio Pedro Parente [presidente da Petrobras], do [Luiz Eduardo] Barata no ONS. Ele está montando um time de muita qualidade", completou. 
 
Ferreira disse tem uma boa impressão do ministro. "Primeiro que é uma pessoa que discute com equipe, uma pessoa que acredita que se constrói com base em diálogo, em discussões abertas de ideias." Como a Eletrobras é uma estatal com capital misto e cotada na Bolsa de Valores de São Paulo, o executivo explicou que ainda precisa passar por um processo de aprovação em assembleia antes de assumir a presidência da maior elétrica brasileira.
 
Ele adiantou que uma nova reunião com o ministro está prevista para próxima semana, em Brasília, onde serão discutidas as propostas para Eletrobras. "A Eletrobras é uma empresa cuja qualidade do ativo é muito grande, mas atravessa um momento difícil. Acredito que a gente pode junto construir essa solução." O executivo deu algumas pistas sobre sua missão à frente da Eletrobras. "Sei que o ministro já tem algumas ideias… Tenho experiência no setor, que é o que ele procura, no tema da governança, na reestruturação de eficiência operacional, tenho relacionamento com o mercado de capitais, tenho contribuições que o interessam."
 
Ferreira Junior deixará a CPFL no dia 1º de julho e seu substituto será André Dorf, atual CEO da CPFL Renováveis. Em várias entrevistas Ferreira havia dito que iria descansar após deixar a maior companhia privada do setor elétrico. Ele explicou a mudança de plano. "O momento do Brasil, de alguma maneira, quase obriga a se disponibilizar para poder contribuir. O setor elétrico tem uma contribuição importante na infraestrutura e a Eletrobras como principal player desse setor tem uma participação relevante. O que a gente puder fazer para que ela seja restabelecida nós vamos fazer", afirmou.
 
Desde que chegou ao ministério de Minas e Energia, o deputado e agora ministro Fernando Coelho Filho (PSB/PE) tem promovido mudanças que tem agradado os agentes do setor elétrico. Em suas declarações, tem prometido uma administração menos intervencionista no grupo Eletrobras, uma gestão mais técnica, voltada para eficiência operacional e com foco no resultado. Alguns nomes para substituir o atual presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, já haviam começado a sair na mídia, como o do ex-CEO da Tractebel Energia, Manoel Zaroni, da economista Elena Landau e o próprio Ferreira Junior.
 
O momento da Eletrobras é delicado. A empresa acumula uma dívida total de R$ 38,2 bilhões de acordo com o último balanço divulgado em março deste ano. Além disso, faz quatro anos que a empresa não apresenta resultado positivo. A última vez foi em 2011, quando a Eletrobras fechou o exercício com lucro líquido de R$ 3,73 bilhões. A partir de 2012 foi só prejuízo, que já se acumula em R$ 34,5 bilhões.
 
Outro desafio urgente é o atraso da entrega de informações à reguladora do mercado de ações norte-americano, Securities and Exchange Commission (SEC). A estatal precisaria enviar o formulário 20-F referente aos balanços financeiros dos anos de 2014 e 2015, ainda não concluídos devido a investigações em andamento sobre eventual prática de corrupção e cobrança de propinas em projetos como a hidrelétrica de Belo Monte (Pará) e a usina nuclear de Angra 3 (Rio de Janeiro). A empresa também precisa dar um encaminhamento definitivo para as combalidas distribuidoras. A expectativa é que esses ativos sejam privatizados.