Uma das distribuidoras com maior índice de perda de energia, a Light (RJ) vem intensificando o combate ao furto. Até o fim de maio, a concessionária realizou 32 operações especiais por meio de parceria com a Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados. Em 100 mil inspeções, foram encontradas 41 mil irregularidades que foram normalizadas, foram feitos 147 registros de ocorrência e 33 prisões em flagrante. De acordo com Ana Marta Horta, presidente da Light, esse combate ao furto é o maior desafio da empresa, que perde 6 mil GWh por ano, o equivalente ao consumo do estado do Espírito Santo.  "As perdas da Light são mais de 20% do Brasil inteiro. A perda impacta não só no resultado da Light, mas também em aspectos da sociedade do Rio de Janeiro", afirma. 

A executiva lembra que o cenário econômico e os recentes aumentos expressivos na tarifa colaboram para deixar o ambiente mais propício ao furto de energia. Ela atacou ainda a cultura de leniência com que o furto de energia é tratado no estado. "Não se vê o furto de energia com algo grave", lamenta. Por conta disso, a empresa prepara uma campanha a partir do próximo dia 1º de julho, direcionada ao público das classes A, B e C que vai reforçar nos meios de comunicação que o furto de energia é crime e vai oferecer a regularização em condições especiais.

A distribuidora decidiu este ano dar um novo direcionamento no combate ao furto de energia. Geralmente focado nas comunidades em áreas de risco, que são responsáveis por 45% das perdas, o combate agora se fortalece nas áreas urbanizadas em que residem pessoas com maior poder aquisitivo, que respondem pelos 45% restantes do furto de energia. A Light instalou 900 mil medidores eletrônicos e destina cerca de 500 profissionais para operações especiais. Para a tarefa, foi chamado Wilson Couto, que ocupa a diretoria comercial. Couto já foi presidente da Cemat (MT) e traz 30 anos de experiência no combate a perdas.

Esses fraudadores de maior poder aquisitivo praticam um sem número de variações de fraudes. Condomínios em bairros como a Barra da Tijuca e Recreio em que a casa já é feita especialmente com ligações subterrâneas específicas para a fraude ou estabelecimentos comerciais como academias, escolas, farmácias e casas de festas que impressionam pelo número de aparelhos ligados e o consumo suspeito. O grande vilão da fraude é o ar condicionado, que por ficar ligado um sem número de horas, consome grande quantidade de energia. Estudo da Light mostrou que o fraudador comum urbano só ativa o ar condicionado em temperaturas superiores a 24º. Já o que está m áreas mais pobre, faz isso em 20.6º, por estar em locais com menos ventilação, o que deixa a casa mais quente durante a noite.

As fraudes na Light esse ano tiveram um aumento de 4,8 pontos percentuais. A perda da distribuidora está em 23,93% em relação a carga comprada, sendo 7% é perda técnica. Dos cerca de 4,2 milhões de clientes, 1,75 milhão frauda energia. As contas podem ficar até 17% mais caras. Caso a fraude fosse zerada, o governo do estado poderia arrecadar R$ 300 milhões em impostos que são sonegados por meio de fraude. A região da Zona Oeste do Rio de Janeiro lidera, com 33% das perdas, sendo seguida pela Baixada Fluminense, com 30%. A chamada região Leste, que engloba bairros da Zona Norte e a Ilha do Governador, tem 27% dos furtos e a região Centro-Zona Sul é responsável por 9%. O Vale do Paraíba tem 1% das perdas.

A distribuidora também vem investindo em tecnologia. Segundo o diretor comercial, ela conta com um centro de inteligência em que identifica e analisa o comportamento de consumo dos clientes. "Sabemos instantaneamente o consumo dos clientes e aqueles que variam sinalizam um alerta e fazemos uma análise", avisa Couto.