O mercado reagiu positivamente a entrada da State Grid na CPFL Energia, tanto que a ação da elétrica brasileira ficou entre a maior alta da BM&FBovespa nesta segunda-feira, 04 de julho. Hoje, às 17:10 horas, as ações da empresa fecharam cotadas a R$ 22,31, alta de 8,51%, enquanto o Ibovespa subiu 0,62%, para 52.554 pontos. Até sexta-feira, as ações da CPFL já haviam se valorizado em 40,3% no ano. Na última sexta-feira, 1º, a construtora Camargo Correa aceitou vender aos chineses a totalidade de sua participação na CPFL Energia (23,6%), pelo valor de R$ 25,00 por ação, o que representou um prêmio de quase 22% sobre o valor da ação da CPFL cotada no dia do anúncio (R$ 20,56), tornado o acordo em um negócio de R$ 6 bilhões.
 
Victor Martins, analista financeiro da Planner Corretora, avaliou como justo o preço oferecido pelos chineses. "Acho que serve como incentivo aos demais acionistas para também aceitarem a proposta", disse Martins se referido ao fundo de investimento dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), que possui 29,4% do capital social da CPFL, ao Bonaire Participações (15,1%), e ao Free Flot (31,9%).
 
Após a efetiva celebração do acordo entre a Camargo Correa e a State Grid, os demais acionistas que compõem o bloco de controle da CPFL poderão exercer o direito de venda de suas ações na empresa para os chineses nas mesmas condições oferecidas à Camargo. Segundo o banco Credit Suisse, se os direitos de tag-along forem exercidos pelos demais acionistas da CPFL, o valor do negócio pode chegar a R$ 39,5 bilhões. "Com esse prêmio, acreditamos que os fundos de pensão que compõem o restante do bloco de controle da CPFL são muito susceptíveis de exercer os seus direitos de tag-along e vender a sua participação", escreveu o banco em análise divulgada aos seus clientes.
 
Segundo Sérgio Tamashiro, do Haitong Securities, o mercado está apostando no tag-along, tanto que as ações da CPFL subiam 10% pela manhã. Porém, o analista tem dúvidas se os demais sócios vão abrir mão do "melhor ativo do setor elétrico". "Os fundos querem fazer investimento de longo prazo que sejam estáveis e bons. Então, se desfazer desse ativo para ir para outro que tem alto risco; não sei se é uma característica que se adequa ao perfil desses fundos de pensão." Para Tamashiro, seria mais conveniente para todos os lados manter a atual estrutura acionária da CPFL. Ele explicou que os chineses sabem que o setor elétrico é complexo e que exige muita comunicação com os governos locais. "É muito difícil para um chinês entender todo esse arcabouço regulatório. Então, é muito mais fácil ele ter um sócio melhor relacionado."
 
O analista Alexandre Furtado, da corretora Lopes Filho, também acha pouco provável que os fundos de pensão saiam da CPFL, embora concorde que o preço pago pelos chineses foi justo. A preocupação é se as decisões da CPFL poderão ser afetadas com a entrada de um sócio com muito "poder de fogo", como é o caso dos chineses. A companhia está bastante alavancada e poderá precisar de capital para reduzir essa alavancagem. Outra preocupação é com a disciplina de capital dos chineses, que topam um nível de remuneração inferior aos normalmente aplicados por empresas privadas no Brasil.
 
Victor Martins destacou que a operação traz uma sinalização positiva para o setor elétrico, que precisa de investimentos e sabe que alguns investidores tradicionais estão com limitações financeiras. "É um novo entrante no setor de distribuição, que tende a potencializar novos negócios na cadeia", disse. "O setor de distribuição precisa de volume, escala para poder gerar resultado. Acho que a tendência é a State olhar outros ativos ao longo da cadeia", completou.
 
O Credit Suisse avaliou a atuação dos chineses no setor elétrico brasileiro, que deste 2010 vêm ganho mais mercado no país. Segundo o banco, os investimentos chineses no setor envolvem algumas características que merecem destaque, como a aquisição de concessões longas e com escala, baixo risco operacional, e sempre com parceiros e equipes locais. "Isso nos mostra que as duas empresas (State Grid e CTG) têm sido muito seletivas na sua busca para se estabelecerem no mercado brasileiro para, em seguida, expandir-se com ofertas maiores." A efetiva conclusão da transação entre a State Grid e a Camargo Corrêa só vai acontecer após a obtenção das aprovações por parte do Conselho Administrativo de Defesa Econômica e da Agência Nacional de Energia Elétrica.