Cada vez mais as empresas do segmento de utilities deverão aprimorar os serviços que disponibilizam aos clientes como forma de agregar valor e enfrentar a concorrência de um mercado que cobra mais eficiência operacional e de resultados. O caminho a ser seguido segundo a consultoria AT Kearney aponta como tendência para os próximos anos a adoção de ações inovadoras e a mudança de cultura dentro da própria organização como os principais desafios a serem enfrentados.

Diferentemente do que possa parecer, o Brasil não está muito afastado do que a Europa viveu anos atrás quando deu-se a expansão do smart grid por lá. Acontece que estamos anos atrás. Segundo o sócio da consultoria na Áustria, Florian Haslauer, o país está no mesmo ponto que o mercado europeu quando este avançou no sentido de modernização das concessionárias. “Por isso, a nossa expectativa é que alguns desenvolvimentos e tendência de mercado serão mais rapidamente implementadas no Brasil do que em qualquer outra região”, comentou o executivo. 
Uma das características que Haslauer destacou no ambiente brasileiro é a abertura e disposição das empresas em considerar alternativas tecnológicas para suas operações. Até porque a digitalização do segmento é uma tendência que tende a crescer e a fazer parte do dia a dia ao passo que a energia é cada vez mais considerada uma commodity e os consumidores podem acessar, por exemplo, sistemas de geração distribuída, o que reduz a necessidade de consumo na rede. Por isso, é necessário que os serviços sejam atraentes e criem valor para o cliente para que sobrevivam ao mercado.
No Brasil, destacou outro sócio da consultoria, Cláudio Gonçalves, que atua diretamente com empresas do setor elétrico, as companhias estão no que a empresa classifica como a primeira onda de inovação que engloba, principalmente, os projetos de pesquisa e desenvolvimento e pilotos, como o mercado tem visto e cujo financiamento dessas ações é limitado. O próximo passo, contou ele à Agência CanalEnergia, é a transformação dessas iniciativas em um modelo de negócios.
A segunda onda de inovação, continuou ele, vem no sentido de integrar os diversos dispositivos eletrônicos e de comunicação que existem e que muitas concessionárias já adotam como forma de tornar a operação mais eficiente. “Hoje ainda existe muito espaço para essa evolução”, comentou. “A diferença no Brasil para a Europa quando se tem um projeto de smart grid, por exemplo, é que há a perspectiva de um ganho quase que imediato ao utilizar as tecnologias para tornar as concessionárias mais eficientes, pois o impacto é visto diretamente na redução das perdas, e você tem a obtenção do retorno do investimento”, indicou ele.
Haslauer acrescentou que isso representa a oportunidade para que esses projetos sejam business cases bastante positivos para o país, até mesmo mais do que se viu na Europa. Isso em decorrência de que cada vez mais se consegue obter ganho de produtividade e eficiência operacional por meio da tecnologia com serviços à distância.
A consultoria admite que o custo desses projetos ainda são altos. Mas, lembrou Gonçalves, essa característica é inerente a avanços tecnológicos em todo o mundo. “A solar estava em outro patamar de preços dez anos atrás e vem recuando, as novas tecnologias não são baratas em seu início mas ao passo que avança e ganha escala tem seu preço reduzido”, comentou. Quanto à necessidade de que os investimentos sejam reconhecidos para compor a base tarifária Haslauer acrescentou que há companhias europeias que não esperaram reconhecimento de investimentos e avançaram em termos operacionais e de eficiência e competitividade. Isso, diz ele, quando se compara a utilities que esperaram algum movimento do governo no sentido de remunerar esse investimento. “A visão errada é a de esperar, você consegue ganhos de competitividade e em produtividade com a redução de custos e cria valor adicional à companhia”, finalizou.