O valor mínimo de venda da concessionária goiana Celg-D é considerado “irreal” e deverá afastar potenciais interessados na aquisição, afirmou Ricardo Botelho, presidente o Grupo Energisa, em entrevista exclusiva concedida à Agência CanalEnergia nesta sexta-feira, 29 de julho.
A Celg-D será a primeira entre um conjunto de sete distribuidoras que o Governo Federal já avisou pretende privatizar até o fim de 2017. A licitação da concessionária goiana está marcada para 19 de agosto e o valor mínimo pedido pelo governo é de R$ 2,8 bilhões. “A gente entende que a Celg foi precificada numa condição irreal. Nessas condições, não nos interessa”, disse o executivo, admitindo que a distribuída de Goiás tem uma sinergia “gigante” com as empresas Energisa Mato Grosso, Energisa Mato Grosso do Sul e Energisa Tocantins.
Para o presidente da Energisa, os governos de Goiás e Federal (controladores) precisam rever o preço de venda da Celg, “se não vai ter comprador”. “Vai perder uma grande oportunidade de vender um ativo que pode ter até vários interessados”, lamentou. “É um preço mais caro do que a mais cara distribuidora do brasil listada em bolsa, que no caso é a Equatorial.” Segundo Botelho, a concessão da Celg tem muitos desafios a serem superados, que vão exigir alto volume de investimentos por parte do novo controlador.
Nesta sexta-feira, o Grupo Energisa comemorou sua adesão ao Nível 2 de Governança Corporativa da BM&FBovespa, em evento realizado na bolsa de valores de São Paulo. Com a adesão, a companhia passa a ser a 21ª empresa a ser listada nessa categoria. O grupo também realizou nesta semana a primeira oferta pública de ações dos últimos 13 anos da bolsa, com captação de R$ 1,36 bilhão. O processo ainda está em andamento, podendo chegar a R$ 1,53 bilhão assim que as ações adicionais ofertadas forem negociadas.
Botelho foi categórico ao afirmar que os recursos ora captados não miram novas aquisições, mas, sim, reduzir o nível de alavancagem da empresa. Porém, ele explicou que a operação vai aumentar a liquidez da Energisa no mercado de ações, tornando o mercado de capital “uma alternativa para futuras capitalizações” que a empresa necessitar. “Estamos nos desalavancando, tornando nosso balanço mais saldável. Outro aspecto importante é que no momento em que a gente se torna mais conhecido no mercado de capitais, aumenta nossa liquidez no mercado de ações. Então, o mercado de capitais passa a ser também uma boa alternativa para futuro acesso ao capital”, disse.
A dívida líquida do Grupo Energisa está acumulada em R$ 6,6 bilhão, boa parte contraída após a conclusão da aquisição de oito distribuidoras do Grupo Rede em abril de 2014. No ano passado, o grupo renovou seus contratos de concessão por mais 30 anos. Apenas nos ativos do Rede, a Energisa já investiu R$ 1,9 bilhão entre 2014 e 2015. Para esse ano, o segmento de distribuição deverá receber R$ 1,3 bilhão de investimento, a maior parte para as empresas recém-compradas.
Eletrobras – Além da Celg, a Eletrobras declarou que vai privatizar, até dezembro de 2017, as concessões de Ceal (AL), Cepisa (PI), Ceron (RO), Eletroacre (AC), Boa Vista (RR) e Amazonas Energia (AM). A Energisa admite que alguns desses ativos têm sinergia com sua área de atuação. “Essas oportunidades a gente está vendo num horizonte um pouco mais adiante. Essas empresas precisam ser minimamente arrumadas, até para poder atrair interessados, ter competição, porque se não elas se tornam invendáveis.”
O Grupo Energisa está entre as maiores empresas de distribuição de energia elétrica do Brasil, ao lado da CPFL Energia e Equatorial. Conta 13 concessões nos estados de Minas Gerais, Paraíba, Rio de Janeiro, Sergipe, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, São Paulo e Paraná. São aproximadamente 6,4 milhões de clientes em 788 municípios. A receita líquida anual do grupo é de cerca de R$ 10 bilhões. A empresa também atua em comercialização e serviços para o setor elétrico, com a Energisa Comercializadora e Energisa Soluções. Em novembro de 2014, a empresa vendeu seus ativos de geração (488 MW) para Brookfield por R$ 1,4 bilhão.
Nível 2– As empresas listadas no Nível 2 da Bovespa têm direito de manter ações preferenciais (PN). No caso de venda de controle, é assegurado aos detentores de ações ordinárias e preferenciais o mesmo tratamento concedido ao acionista controlador, prevendo, portanto, o direito de “tag along” de 100% do preço pago pelas ações ordinárias do acionista controlador. As ações preferenciais ainda dão direito a voto aos acionistas em situações críticas, como a aprovação de fusões e incorporações da empresa e contratos entre o acionista controlador e a empresa, sempre que essas decisões estiverem sujeitas à aprovação em assembleia.