O Brasil tem uma sobra real de 3,4 GW médios e pode precisar de energia caso a retomada da economia seja expressiva para 2017 ou 2018 e seja mantida a política de segurança e suprimento. Essa é uma das conclusões de um estudo elaborado por três consultorias a pedido da Associação Brasileira de Energia Eólica. A solução para esse problema seria a contratação de cerca de 2 GW médios nos leilões de reserva deste ano o que levaria à necessidade de o governo acrescentar 4 GW em potência instalada na matriz ainda este ano.
Segundo a presidente executiva da Abeeólica, Élbia Gannoum, caso não ocorra essa contratação há o risco do Brasil precisar dispor novamente das usinas térmicas mais caras, como vistas nos últimos dois anos. O estudo foi apresentado pela entidade ao ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, em 19 de abril e aponta entre outros cenários a perspectiva de que a sobra real fique em 1,4 GW médio com a retomada da economia e, em caso mais extremo, a possibilidade de 15% a 20% de chances de o país registrar um risco de 38,1% da demanda superar a oferta de energia, o que significaria, na prática, falta de energia em 2018.
“Quando aplicamos as reações econômicas às séries sintéticas traz resultados importantes e em uma reação da economia, e tudo indica que está acontecendo, inclusive com o próprio FMI indicado esse crescimento, as sobras desaparecem”, comentou Élbia. “O primeiro cenário apontado pelo estudo que tem 70% de chances de ocorrer é resultado de um crescimento mais conservador da economia. Precisamos lembrar que há capacidade ociosa na indústria, por exemplo na automotiva, com 25% das máquinas paradas onde é só apertar o botão da máquina e a demanda é retomada”, apontou a representante do setor eólico.
A ABEEólica contratou estudos da PSR, LCA e da Excelência Energética para chegar ao resultado apontado. A sobra contratual é de 12,4 GW médios mas é o que se chama da sobra de papel. Nesse montante, argumenta, é preciso descontar 6,6 GW médios de sobras por conta da revisão do critério de suprimento, que inclui a atualização do CVU das termelétricas, restrições de transmissão do SIN, motorização das UHEs ao longo do ano e as revisões de garantias físicas. Além disso, o fator de fricção, que considera a revisão da produtividade das hidrelétricas levando em conta a capacidade real da turbina e assoreamento dos reservatórios, retira mais 2,4 GW médios dessa conta .Levando assim a uma sobra real de 3,4 GW médios.
Com esses dados em mãos no estudo da LCA foram analisados os cenários de sobreoferta. Para este ano o fornecimento estaria atendido. O problema, relatou Élbia, ficaria mesmo com o atendimento da demanda para 2017 e 2018. Adicionado a esse fator, está a incerteza da capacidade de atendimento à demanda que caracterizou os últimos anos quando o país vivenciou uma das suas piores hidrologias históricas. Daí, continua o estudo, a necessidade do Brasil ter uma espécie de seguro de suprimento capa de acomodar as variações de oferta e demanda sem o risco de quedas de energia ou elevar os custos do insumo.
Por fim, a ABEEólica indica no documento a importância do setor para o país e a manutenção da sua cadeia produtiva que foi criada há seis anos a partir de um programa de nacionalização e que soma investimentos de mais de R$ 48 bilhões nesse período. E citou dados como a economia de R$ 5,1 bilhões em 2014 e de mais R$ 645 milhões no ano passado por evitar que térmicas fossem utilizadas. E ainda, entre outras conclusões, que a manutenção da contratação da fonte ajudará na preservação de empregos bem como atender aos compromissos que o país assinou na COP 21 em termos de ampliação das fontes renováveis em sua matriz energética.