A contratação de novos empreendimentos de geração de energia elétrica por meio de leilões não pode ser interrompida no Brasil, disse um alto executivo de uma das maiores fabricantes e prestadoras de serviços para o setor elétrico no mundo. "A gente entende como importante a continuidade da contratação de energia nos leilões e a gente espera que o governo planeje para ter diferentes tecnologias, tornando o sistema confiável", declarou Jairo Ramalho, Senior Market Intelligence Leader da GE Gás Power, em entrevista exclusiva à Agência CanalEnergia.
 
O executivo enfatizou a importância de "balancear as tecnologias" para tornar o sistema mais seguro, com as térmicas a gás complementando as fontes solar, eólica e hidrelétrica. “A gente vê as térmicas como necessárias para operação do sistema", disse.
 
Atualmente o país sofre com a falta de gás natural, o que impede a oferta de novos projetos desse tipo nos leilões. Essa limitação é explicada pelo quase monopólio da Petrobras nesse segmento. Contudo, a estatal deverá reduzir sua participação nessa cadeia e uma nova regulação deverá ser implementada para permitir a entrada de novos players para explorar e distribuir o gás no Brasil. O plano chamado de "Gás para Crescer" foi anunciado pelo Secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do MME, Márcio Félix, no final de julho.
 
A ideia é que até o final de setembro o país apresente novas políticas para o setor de gás natural no país. Segundo o secretário, as premissas básicas para o desenvolvimento das novas diretrizes são: adoção de boas práticas internacionais; atração de investimentos; aumento da competição; diversidade de agentes; maior dinamismo e acesso à informação; participação ativa dos agentes do setor e respeito aos contratos firmados.
 
Segundo Ramalho, a GE vê com otimismo essa movimentação. "A GE fala globalmente na era do gás. É um combustível atual e que tem muitos anos para crescer." Ele afirmou que tanto a exploração quanto o fornecimento de gás vêm crescendo muito nos últimos anos no mundo. "Veja os Estados Unidos… está sobrando gás no mercado e com isso a gente vê o preço caindo globalmente." Ele contou que a expectativa é que a produção de gás no Brasil deverá apresentar crescimento nos próximos 10 anos.
 
Para ele, um dos grandes desafios do setor é desmistificar a ideia de que a fonte térmica é "suja e cara" e por isso ela deve ser colocada em segundo plano no planejamento setorial. Ramalho explicou que a térmica a gás chega a ser 90% menos poluente que as térmicas a óleo diesel. Hoje, a matriz elétrica brasileira ainda é composta por 4,8% de térmicas movidas a derivados de petróleo e 4,5% a carvão. Dessa forma, a substituição dessas usinas por plantas a gás é uma oportunidade a mais para o país tornar sua matriz elétrica mais limpa. 
 
O executivo explicou ainda que além do baixo custo do gás em relação ao óleo diesel, a tecnologia de queima de gás natural é muito mais eficiente quando comparado ao óleo, o que torna o retorno sobre o investimento mais atrativo para os investidores. A GE Power é especialista em térmicas a gás. Porém, seu portfólio de serviços foi ampliado após a compra da francesa Alstom.
 
"A Alstom com certeza agregou muito à GE. Em termos de portfólio, nós éramos muito fortes em turbinas a gás, mas a Alstom trouxe tecnologia para planta térmica e agora a gente consegue ofertar um escopo maior de serviços. A Alstom permite com que a gente faça parte do design da planta, fazendo com que a eficiência total seja maior em comparação com os produtos dos nossos concorrentes", afirmou Ramalho.
 
A GE trabalha em todas as tecnologias de geração de energia – biogás, combustíveis alternativos, carvão, petróleo, gás natural e energia nuclear – incluindo fontes renováveis, como eólica e solar. Dos 143 GW de capacidade instalada do Brasil, um terço das usinas em operação contam com tecnologia da empresa.  A linha de turbinas GE 7HA para termelétricas movidas a gás natural é considerada a mais eficiente do mundo.
 
A GE também está atenda ao crescimento de mercados como o México e a Argentina: o primeiro implantou uma reforma energética em 2014 ao abrir o mercado para participação privada; enquanto o segundo apresenta um déficit energético por deixar de investir em energia por muitos anos.