Com atuação reconhecida na adoção de tecnologias limpas e energias renováveis, a Finlândia quer estreitar mais os laços com o Brasil nesse campo. Durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, o país montou a sua hospitality house e temas como a inovação tecnológica, eficiência energética e a sustentabilidade estiveram presentes na programação da casa. De acordo com Ilkka Homanem, que é líder da área industrial da Cleantech Finland, uma associação que reúne as empresas finlandesas ligadas ao setor, a diversidade da matriz brasileira é algo que atrai as empresas finlandesas. "O Brasil tem uma oportunidade dourada de produzir energia limpa. Isso é algo que nos deixa muito próximos, a Finlândia tem empresas que podem ajudar nisso", explica.
Sem muitas fontes naturais e recursos em combustíveis fósseis, o uso racional da energia já está inserido no país, conhecido pelo alto índice de qualidade de vida e por ser um dos mais verdes do planeta. Quase 40% da energia produzida pela Finlândia já é produzida em métodos sustentáveis. Ainda segundo Homanem, levantamento da revista The Economist traz o país escandinavo ocupando o quarto lugar em competitividade global, facilidade de fazer negócios e inovação global. Outro aspecto frisado pelo executivo da Cleantech é o investimento em inovação tecnológica no país, em que é feito um esforço entre os principais fornecedores para tornar o ambiente cada vez mais sustentável, seguro e saudável.
Uma das empresas finlandesas mais conhecidas no país é a Wartsila, que já construiu mais de 2 GW em termelétricas, localizadas nos estados do Amazonas, Maranhão, Pernambuco e Espírito Santo. Em abril deste ano, ela decidiu entrar no mercado de energia solar. Outras empresas da Finlândia, porém menores que a Wartsila, já atuam no Brasil em áreas como a bioenergia, energia eólica, e componentes eletrônicos. A Valoe atua na área de painéis fotovoltaicos com a tecnologia Conductive Back Sheet, que tem rendimento 10% superior por metro quadrado comprado ao painéis tradicionais tipo H. No Brasil, esses painéis são montados e distribuídos pela Greenqualy.
O finlandês vê no mercado brasileiro de soluções para smart grid boas oportunidades para as empresas finlandesas. "Olhamos esse mercado de modo muito próximo", comenta. Segundo ele, elas são excelentes integradoras de sistemas de tecnologia e precursoras nas redes de distribuição. Funcionalidades das redes inteligentes como cobrança em tempo real e monitoramento remoto já são uma realidade no sistema finlandês, o que também acaba por garantir a segurança no fornecimento de energia para todos. "Esse tema na Finlândia já está bem avançado", avisa ele. Ele acredita que no biogás, em que o seu país já tem grande experiência e o Brasil ainda está no início, pode haver algum tipo de troca de experiência.
A crença que o deslanche do smart grid no Brasil somente virá após a resolução do modelo de negócio é compartilhada po Homanem. Segundo ele, é necessário que se garanta o investimento feito pelas distribuidoras na compra dos medidores eletrônicos, o que deve ser definido pelo órgão regulador, no caso, a Agência Nacional de Energia Elétrica. "O importante é como garantir o payback para elas e isso depende do regulador. Não está nas mãos do setor privado e sim do governo", salienta. Uma solução usada no sistema finlandês da baixa tensão em corrente contínua está despertando o interesse dos agentes brasileiros. Ela impediria o furto de energia, uma das tormentas da distribuição. O melhor uso dos medidores para o cliente em termo de comunicação, economia e confiabilidade também é outro ponto que trazer o intercâmbio de experiências entre os países. "Há muitas coisas a serem partilhadas no setor de energia, pesquisa e desenvolvimento", aponta.
Outro ponto em que as conversas podem ter boa evolução é o da eficiência energética. A prática já é difundida por lá e por aqui tem voltado a encabeçar as prioridades das empresas, devido a alta dos custos com energia. Sendo uma espécie de ponto nevrálgico da Pesquisa & Desenvolvimento do mundo, em que muitas empresas estrangeiras instalam seus centros de pesquisa por lá, a Finlândia também é considerada como um dos países com a melhor disponibilidade de cientistas e engenheiros no mundo, com o apoio das universidades e do governo no financiamento do conceito de tecnologias limpas.