Os desafios da expansão da fonte eólica podem trazer novamente ao cenário as Instalações de Interesse Exclusivo de Centrais de Geração para Conexão Compartilhada. A volta das ICGs também pode vir da dificuldade encontrada nos últimos leilões de transmissão. Em talk show realizado nesta quarta-feira, 31 de agosto, durante o Brazil Windpower, no Rio de Janeiro (RJ), o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica, Tiago Correia, classificou a ICG como uma ótima alternativa, porém muito dependente da velocidade das decisões da Aneel por ser um contrato regulado. "Temos que rever a governança da ICG. Questões de processos para alterações e disputas dependem da Aneel e ela não tem a habilidade de uma empresa privada", afirmou.
Segundo o diretor, já existe um pleito da Associação Brasileira de Energia Eólica para que o assunto seja revisitado. Atualmente as ICGs não tem mais sido colocadas em leilões, porque para que um projeto participe, ele já deve ter a conexão ao sistema programada, o que não acontecia antes. "Primeiro se fazia o leilão, depois se resolvia a conexão", relembra. Com o fracasso desse modelo, devido ao atraso em muitas linhas que ficavam prontas muito tempo depois das usinas eólicas, ele foi abandonado, embora ainda esteja na legislação.
Ainda de acordo com Correia, a intenção é que nada impeça que os empreendedores eólicos com projetos próximos se unam e dividam o investimento na transmissão, o que além de ser mais barato e menos complexo, não teria a sua implantação regulada pelo órgão. "Seria uma ICG sem a interveniência do regulador", explica. Élbia Gannoum, presidente executiva da ABEEólica, confirma o interesse dos investidores eólicos em aportarem recursos na transmissão, mas desde que haja rentabilidade. Já para o consultor Mario Veiga, que também participou do talk show, o ocaso da ICG veio devido à má gestão de uma estatal sobre os projetos.
Tendo sido responsável por 18% da contratação em todos os leilões até hoje, a fonte eólica trouxe vantagens para o sistema, mas também fez com que aumentasse a intermitência dele. Segundo Luiz Eduardo Barata, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, a fonte vem suprindo a região Nordeste. Há a necessidade de uma sintonia entre o ONS e a Empresa de Pesquisa Energética para tornar melhor a operação. "Se vai ter eólica intermitente, primeiro tem que definir o mix e depois comprar a geração", avisa. Barata pediu ainda atenção no futuro da operação, que será mais complexo que o atual.
Um dos motivos para a operação ficar mais complexa será a geração distribuída, em que a energia eólica pode ser usada. Ela também vai tornar o sistema mais imprevisível, além de interferir na demanda de energia para os leilões. Há a expectativa que no médio prazo, a geração distribuída eólica ocupe espaço relevante. A necessidade da penetração da fonte no mercado livre não foi esquecida por Rui Altieri, diretor-geral da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, uma vez que está havendo uma grande migração de consumidores especiais para o Ambiente Livre, o que vai resultar na compra obrigatória de energia incentivada. "Tem que fazer essa consolidação. Deve-se aproveitar esse momento de forte migração que está acontecendo", conclui.