Os desafios para os próximos leilões de energia para o setor eólico envolvem capital e linhas de transmissão. A alta dependência e a indefinição acerca da participação do BNDES nos empréstimos para a expansão trazem dúvidas sobre as possibilidades de expansão. A solução para esses problemas passa pela expansão do crédito ou por meio de incentivos para reduzir o preço da energia para compensar o alto custo do dinheiro e a realização de leilões de parques onde já há transmissão ou que os geradores se comprometam a construir os ativos para escoamento desde que devidamente remunerados pelo aporte.
De acordo com o diretor de utilities da consultoria CGI, Marco Afonso, o governo deu sinais de que o problema da falta de transmissão de energia para parques eólicos deverá ser mitigado com concatenação de cronogramas de geração e transmissão. Ou seja, de que os parques só poderão ser colocados em uma disputa desde que tenham assegurado por onde será o escoamento de energia. Com isso, a busca por capital acaba sendo um outro grande tema do setor.
Segundo sua avaliação, a ideia de colocar em um mesmo leilão os projetos de geração e transmissão, ou realizar certames nos quais a geração entra se houver a negociação de linhas correspondentes é uma boa solução, até porque não é raro ver geradores assumindo linhas para colocar em operação as usinas. Ele citou que um cliente da empresa, que não revelou o nome, foi até a Aneel e assumiu esse compromisso para construir 65 quilômetros de linhas para iniciar a geração de um parque. “Investidores não estão no seu core business, mas tem a remuneração pelo investimento e por isso tem que ter retorno. É uma saída para a falta de aportes em transmissão no país”, avaliou.
Agora a questão do capital poderia ser resolvida por meio de ações de incentivos como a isenção de impostos e aumentos mais significativos no retorno dos investimentos. Sua opinião é que a proposta de estudar a oferta de contratos em dólar para atrair o capital externo pode abrir um precedente perigoso para a economia nacional, ainda mais por conta do recente histórico de indexação de contratos à moeda norte-americana e a memória de inflação que o Brasil viveu no passado. Para ele, os mecanismos para trazer esse capital necessário aos aportes existem e não precisa ter indexação ao dólar.
“Poderia ser a saída para atrair o investidor internacional, mas não sei se é a saída para o país em termos de economia. Teria antes de tudo que verificar se o Ministério da Fazenda autorizaria, até porque acho que a própria legislação não permite esse tipo de negociação em território nacional”, comentou ele que lembrou ainda que há um contrato dolarizado em energia que é o de Itaipu, decorrente da natureza binacional da usina.
Outra forma de atrair esse capital, reforçou o executivo da CGI, passa necessariamente pela retomada da confiança e da credibilidade do país que deve ter as regras estáveis para os contratos já fechados. Isso não impede a mudança de condições, comentou, mas desde que essas alterações sejam implementadas e válidas para contratos futuros e não os que já estejam em vigência. “O que mais afasta investimentos é a falta de credibilidade e de confiança no governo”, acrescentou.
Mesmo com esse cenário a perspectiva é positiva, até porque o potencial brasileiro é destacado ante o que se vê em outras regiões. E lembrou que há a necessidade de contratação uma vez que a energia assegurada não é tão alta quanto se imagina o que pode trazer um problema sério de fornecimento com a retomada do crescimento econômico e diante de um período de hidrologia ruim a que o país está vulnerável.