Colocar parte do PPA de um projeto de energia em dólar poderia aumentar em muito as opções de financiamento dos agentes do setor, principalmente nesse momento de escassez de recursos pela qual passa o país e com a nova política do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social de reduzir sua participação nos empréstimos no geral. Marcos Meirelles, CEO da Rio Energy, afirma que os projetos no país precisam acessar outros "bolsos" e que há recursos externos que poderiam ser alocados aqui no Brasil.
"Esse é um momento de pensar novas alternativas. Dinheiro para investimento em energias renováveis tem no mundo, a gente é que não está com as condições necessárias para trazer esse dinheiro", analisou Meirelles, que participou nesta quinta-feira, 1º de setembro, do Brazil Windpower. Segundo ele, o capital para equity está vindo de fora e para a dívida poderia vir também. "Não seria todo o PPA em dólar, mas uma parte, como 20% ou 30%", comentou.
A medida, na visão de Edson Ogawa, chefe de Energia da Divisão de Project Finance do Santander, ajudaria na captação de recursos externos, mas não é de tão fácil implementação, porque um PPA em dólar pode trazer volatilidade para as tarifas e também afetar a cadeia produtiva nacional, visto que se teria acesso ao mercado no exterior.
No entanto, ele também pondera que existe muito recurso barato lá fora que poderia vir para o Brasil caso o PPA fosse em dólar. "O custo do financiamento lá fora está em torno de 5% a 6% ao ano, mas se tiver que fazer uma operação de hedge para que ele venha em Real, aí ele passa para uma taxa em torno de 17% ao ano, praticamente iguais às que temos aqui", explicou, comentando que o recurso deixaria de ser competitivo. O recurso, inclusive, é mais barato que o do próprio BNDES, que têm taxas de 10% ao ano.
"Acho que é algo que vale discutir, o impacto disso hoje na tarifa seria de uma redução", calculou. Rogério Zampronha, CEO da Vestas, diz que a concentração bancária no Brasil é muito grande, sendo, talvez, uma das maiores do mundo. "Se tivesse PPA em dólar destravaria uma série de financiamento em curtíssimo prazo. Nós apoiamos isso", declarou.
A transição, segundo Meirelles, da Rio Energy, se daria de maneira suave. "Com uma parte do PPA em dólar, isso ajudaria o BNDES a trazer a banca comercial para dentro do financiamento", apontou. Ogawa, do Santander, destaca que lá fora o cenário é de juros baixos, alta liquidez e poucos projetos a serem financiados.
"Então, a gente tem que acessar esse bolso. Todos os nossos vizinhos têm PPAs em dólar", afirmou. Marcelo Girão, chefe da Divisão de Project Finance do Itaú BBA, lembrou que isso já acontece no Brasil, já que parte das tarifas de Itaipu são indexadas ao dólar.