O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social passa um momento de transição. O banco, segundo Lígia Chagas, chefe do Departamento de Energias Alternativas do BNDES, está revendo suas políticas operacionais como um todo, tentando atrair mais capital privado para financiar os projetos de longo prazo. Ela explica que o BNDES seria o âncora, enquanto os outros bancos seriam co-financiadores.

"Pretendemos estar desde o início no projeto para que eles dependam cada vez menos de empréstimos-ponte", afirmou a executiva. Atualmente, os bancos comerciais já tem uma participação importante nas operações de crédito, principalmente através dos empréstimos-pontes e na prestação das garantias financeiras exigidas pelo BNDES na fase de construção e nos primeiros anos de operação dos projetos.

"O que está acontecendo nas discussões agora é como os bancos conseguem participar do financiamento de longo prazo", comentou Edson Ogawa, chefe de Energia da Divisão de Project Finance do Santander. Segundo ele, é possível os bancos participarem dessa operação, mas isso precisa ser feito de uma forma planejada é organizada. "Não dá para de uma hora para outra ter financiamento direto para uma quantidade muito grande de repasses", destacou.

Hoje, no Brasil, existem cerca de 4 ou 5 bancos que poderiam fazer esse repasse junto ao BNDES, mas o custo do financiamento seria acima do que é praticado hoje pelo banco de fomento. Por isso, as regras tem que ser colocadas para o empreendedor antes dos leilões, para que isso seja precificado na tarifa.

"Isso altera o custo do financiamento independente da participação dos recursos do BNDES, porque nosso custo vai ser superior que os do BNDES. Isso tem impacto para o empreendedor, que já está arcando com um custo de financiamento maior por conta do empréstimo-ponte mais caro, e TJLP mais alta, que passou de 5% para 7,5%", declarou o executivo.

Lígia, do BNDES, afirma, no entanto, que mesmo com as mudanças no banco, as condições estabelecidas para os leilões que já aconteceram seriam mantidas. "O BNDES não quer ser um elemento de surpresas. O investidor tomou decisões de investimentos com base naquelas premissas", comentou, frisando que energia é prioridade para o banco, especialmente as renováveis.

Marcelo Girão, chefe da Divisão de Project Finance do Itaú BBA, avalia que existe espaço para os bancos darem esse apoio ao BNDES, mas será necessário ser mais rígido nas operações devido ao momento de incerteza pelo qual passa o mercado brasileiro. Para Carla Cardilo, superintendente Financeira da CPFL Renováveis, a entrada dos bancos comerciais vai encarecer a dívida. "Então, tem que ter um ajuste ou melhora nos preços dos leilões", analisou a executiva, que participou nesta quinta-feira, 1º de setembro, do Brazil Windpower.