O governo de Goiás não apenas concorda com a revisão do preço mínimo de venda da Celg D, como vê na privatização da distribuidora nos próximos meses a solução para o gargalo de infraestrutura que tem restringido a vinda de novos investimentos para o estado. “Nós entendemos que essa revisão era necessária. Na verdade, antes mesmo de ocorrer o cancelamento [do leilão da empresa] já tínhamos ouvido no mercado, de forma muito contundente, que o preço estava fora de lugar, e que corria-se o risco de afugentar qualquer proposta na data do leilão, o que acabou ocorrendo. Não houve surpresa”, avalia a secretária estadual de Fazenda, Ana Carla Abrão.

Obrigado a cancelar o certame previsto para o dia 19 de agosto, por falta de interessados, o governo federal reduziu o preço mínimo de venda da empresa de R$ 2,8 bilhões para R$ 1,8 bilhão.  A intenção é republicar o edital em outubro para que o leilão aconteça em novembro.

O preço anterior tinha como base junho de 2015 e agora passou a refletir a situação financeira da empresa em junho de 2016. De meados do ano passado para cá, destaca a secretária, até em função dos adiamentos no governo Dilma Rousseff e das dificuldades de relacionamento com o governo do estado que retardaram a venda da empresa, a Celg D entrou em processo de agravamento da situação financeira. 

Para Ana Carla Abrão, a redução “captura essa deterioração financeira, que os interessados já observavam por meio do acesso ao data room”, e que forçava o preço para cima. Outro ponto fundamental na decisão do governo foi a revisão das premissas macroeconômicas que ditaram a avaliação em junho do ano passado. “Nós sabemos também que o processo de deterioração da economia brasileira veio se agravando, principalmente no segundo semestre de 2015. E também não estava capturado prêmio de risco, custo de capital, coisas que refletem [na avaliação da empresa], que foram se descolando da realidade ao longo desse tempo”, explicou em entrevista à Agência CanalEnergia

Apesar do Ministério de Minas e Energia falar em republicação do edital, Ana Carla acredita que foi feita apenas uma atualização, porque não houve mudança de metodologia ou de critério de avaliação do processo licitatório. “As mesmas empresas que fizeram a avaliação lá atrás fizeram agora, mas atualizando os números e trazendo o valor para algo mais alinhado com o que a gente entende ser a realidade da empresa.” 

A Celg Distribuição será a primeira experiência de privatização do governo Temer. O pacote de concessões de infraestrutura anunciado na última terça-feira, 13 de setembro, pela Secretaria Executiva do Programa de Parceria em Investimentos incluiu entre os empreendimentos da área de energia elétrica outras sete distribuidoras no Norte e Nordeste do país, que não renovaram as concessões. A maioria delas é controlada pela Eletrobras. Ele prevê também o leilão das usinas São Simão, Miranda e Volta Grande. A concessionária goiana é a única entre as distribuidoras federalizadas que teve o contrato prorrogado por 30 anos. Desde 2015, a Eletrobras detém 51% do capital da empresa e o estado de Goiás 49%.

Ela é também a única distribuidora Eletrobras que não entrou no pacote. O governo do estado chegou a pensar na possibilidade de inclusão da licitação da Celg no PPI, mas a secretária afirma que há interesse de que a privatização ocorra o quanto antes, para evitar uma deterioração maior da empresa, mas, acima de tudo, para resolver o gargalo no fornecimento de energia, já que tanto o estado quanto a Eletrobras não têm condições de fazer novos aportes de recursos para investimentos na concessão. “O estado vem atraindo investimentos, mesmo nos momentos piores da crise, mas o ponto que sempre surge para toda empresa que vem se instalar em Goiás é o fato de que a Celg hoje é uma restrição.”

A secretária acredita que agora será mais fácil atrair novos investidores para o leilão, e afirma que embora a licitação da Celg não tenha as mesmas condições do PPI, ela se beneficia de todo o processo institucional do programa, porque há um esforço dos ministros envolvidos na divulgação dos ativos à venda no Brasil, tanto internamente quanto no exterior.

“Ela pode não estar com o mesmo cronograma, com a mesma estrutura, mas está dentro do programa de investimentos do governo. E isso é algo que a gente nunca teve com a Celg”, afirma a secretária. Ela diz que o que havia antes em relação à distribuidora era “uma privatização envergonhada no governo do PT”, que não tinha apoio de boa parte do governo federal. “Isso a gente tem agora”, diz, acrescentando que a postura do governo atual “faz toda a diferença.”