A atual percepção de que o modelo computacional do setor elétrico está afastado da realidade operativa no país poderia ser revertida com algumas medidas que não seriam demasiadas complexas. Um dos pontos que proporcionam a desvinculação entre o mundo real e os resultados considerados otimistas é a inserção de dados e, principalmente, o reconhecimento de restrições. Com mudanças institucionais o modelo poderia ser modificado de forma a viabilizar uma aderência maior entre esses dois mundos.
Segundo o professor Alexandre Street, do Departamento de Engenharia Elétrica do CTC/PUC-Rio, esse descolamento que temos visto não tem como culpados nem o Cepel tampouco o Operador Nacional do Sistema Elétrico. Ele considera que a estrutura institucional desses órgãos, que andam em paralelo, é um dos pontos que dificultam a correta modelagem e assim a correção de rumo nos resultados.
O acadêmico cita que há diversas alternativas para que se possa reposicionar essa aderência do mundo físico do setor elétrico ao virtual que é dado no Newave. Uma delas seria a possibilidade de que o Cepel pudesse abrir o código-fonte do sistema, e assim, poder receber contribuições de diversos lados, seja de universidades, outros operadores de sistemas e até mesmo do ONS, que poderia passar a atuar de forma a incorporar mudanças que só quem está na operação diária conhece.
“Precisamos de uma correção de rumos que possa agir em ‘real time’, isso ajudaria a resolver essa questão da realidade da operação. A estrutura institucional do setor, da forma que está, já teve seu papel, mas não é mais ágil o suficiente para atender as necessidades do setor elétrico. Uma alternativa seria aplicar uma nova estrutura que tenha a agilidade suficiente que o setor necessita”, comentou ele.
Atualmente, lembra Street, o modelo apresenta um descompasso entre o planejamento e a operação em decorrência de algumas falhas na introdução de dados. Nesse sentido, as restrições de transmissão e o atraso das obras. Com isso, o futuro indicado no modelo, explicou, aparece de forma mais otimista do que a realidade pode chegar nesse futuro. E, quando vê que a situação fica mais pressionada do que o que era planejado, que o sistema está mais estressado que o previsto, temos uma reação mais pessimista e isto eleva os valores do PLD a um patamar acima do que se projetava anteriormente.
Para ele, a perspectiva de que o operador passe a adotar a Superfície de Aversão a Risco (SAR) é um passo positivo, pois a aversão ao risco seria indicada de forma mais direta. Contudo, alerta que os dados precisam ser mais realistas. “Se considerássemos as restrições já se colocaria esse fator nas perspectivas futuras e evitaríamos o pico de estresse do sistema”, apontou o acadêmico.
Em sua avaliação deveria haver alguma alteração na estrutura organizacional que colocasse o Cepel e o ONS em uma posição onde esses dois órgãos pudessem se comunicar mais e assim com essa interação adotar medidas que trouxessem a realidade do dia a dia para o modelo computacional.
Além disso, Street ainda defende que entre as formas de mudar esse cenário estaria a que permitiria ao ONS escolher o seu próprio sistema onde poderia ter mais liberdade em planejar e operar o modelo de uma maneira mais próxima do que se espera e com isso, eliminar os picos de PLD e os consequentes custos extra para o sistema elétrico nacional. “Não dá para dizer qual seria a melhor opção, mas algo precisa mudar”, finalizou Street.