Recebendo os mais variados olhares da sociedade, a expansão da fonte hídrica no país sempre se depara com críticas contundentes quanto ao seu impacto ambiental. Mesmo com todo a evolução nessa área, muitos projetos tomam a figura do responsável por causar devastação e desequilíbrio, além de ter a implantação da operação muitas vezes postergada por falta de diálogo com os envolvidos. De acordo com José Eduardo Moreira, presidente da PCE Projetos e consultorias de Engenharia, o aspecto ambiental deve estar sempre no primeiro plano, de modo a evitar maiores complicações. "No início tem que ter a preocupação ambiental, porque depois para consertar, vai sair muito mais caro e às vezes não consegue consertar direito", explica.
Moreira fala com a autoridade de quem na década de 1970 trabalhou na área de aproveitamento de hidrelétricas da Eletronorte e participou de vários estudos de viabilidade de inventários na região amazônica, incluindo a coordenação da primeira etapa da usina de Tucuruí. Ele destaca a evolução no aspecto ambiental desde então. "A palavra meio ambiente sequer existia e hoje é o contrário, no primeiro da que começa tem a condicionante ambiental. Falávamos em viabilidade técnica e econômica e hoje é viabilidade ambiental, técnica e econômica", observa. Na década de 1990, ele decidiu se aventurar na inciativa privada com a PCE.
O engenheiro escolhe como exemplo de projeto hidrelétrico ambientalmente exitoso o das usinas do rio Madeira. Ele conta que após ter terminado o projeto da UHE Manso, decidiu que a empresa deveria ter uma postura mais ativa e participar de um projeto de interesse nacional. "Nessa época eu idealizei que projeto do rio Madeira tinha possibilidade de aproveitamento muito bom", afirma. Houve o interesse da Odebrecht e Furnas no projeto. Quando era questionado o motivo por se dividir o aproveitamento em duas usinas e não fazer apenas uma, o que sairia mais barato e geraria mais energia, Moreira enfatizava o ganho ambiental e social da decisão. Uma usina teria área alagada cinco vezes maior e atingiria cidades, estradas importantes da região e unidades de conservação ambiental.
Um fracasso na condução do projeto ambiental no Madeira dificultaria futuras hidrelétricas na região, como Teles Pires e Belo Monte. Segundo Moreira, era uma obrigação mostrar que era possível construir usinas na Amazônia que conciliavam a parte ambiental e social. "Foram dois anos de discussões com órgãos de governo e no final provamos que deu certo. [A usina] Foi para o leilão, nosso grupo ganhou uma e outro ganhou a outra", comenta. Ele elege como fator que mais contribuiu para a vitória do projeto, o diálogo com a população, o que ele considera fundamental em qualquer obra de infraestrutura. "Antes de fazer um estudo, conversamos com todos os formadores de opinião, fomos na assembleia legislativa, câmara de vereadores, fizemos mais de 20 reuniões para saber os anseios deles", frisa.
Para Moreira, que tem mestrado pela Coppe-UFRJ, a expansão da fonte hidrelétrica no Brasil é a garantia que as fontes renováveis também poderão se expandir, uma vez que por serem intermitentes, elas precisam de uma fonte firme que despache energia para o sistema quando não houver ventou ou sol. "A defesa da hidrelétrica deveria ser feita por quem defende a eólica ou a solar", aponta Moreira. Ele alerta que o êxito que essas fontes vêm encontrando pode ficar em risco caso a contratação de usinas hidrelétricas sofra uma retração.
Moreira acredita que a hidrelétrica de Tapajós, que foi adiada pelo governo Temer por intensa dificuldade no seu licenciamento ambiental, pode ser viabilizada. Mas ele pede que as obras de infraestrutura local sejam realizadas primeiro que as da usina, além de um prazo para a construção da UHE mais dilatado que os cinco anos habituais. A usina, que chegou a ter o seu leilão lançado pelo governo Dilma e posteriormente adiado, é definida por ele como um caso de falta de comunicação. "É possível construir São Luiz do Tapajós, mas tem que saber qual o benefício que a população local quer e mostrar o que pode. A sociedade já decidiu que o país tem que ser sustentável, mas ela vai pagar por esses custos", ressalta.
Engrossando o coro dos que pedem uma revisão no modelo do setor, o presidente da PCE Engenharia não vê o momento atual como bom para as empresas do ramo. Com as empresas brasileiras fragilizadas e com baixo poder de financiamento, projetos nacionais e internacionais não estão sendo demandados. A PCE, que também tem atuação internacional trabalha com a expectativa de participar de um projeto na América Central. Essa inação na falta de projetos de hidrelétricas pode acarretar uma fuga de talentos na área, migrando para o serviço público. "A perspectiva é muito ruim para os próximos anos. Temos funcionários que entraram como estagiários e fizeram pós-graduação se sentindo desmotivados. O país pode perder todo esse know-how", conclui.