O setor elétrico começa aos poucos a amadurecer as medidas de curto prazo consideradas necessárias para superar os problemas mais urgentes, além de uma agenda futura que promete superar questões de transparência e previsibilidade. O aperfeiçoamento do modelo setorial precisa, porém, preservar as bases existentes, reforçaram nesta quinta-feira, 29 de setembro, investidores que participaram da 16ª edição da Encontro da Apine com seus Convidados.
No fundo, todos anseiam por uma revisão, sem que isso implique substituir o modelo atual. “O setor tem uma estrutura de décadas de amadurecimento e, evidentemente, essa estrutura regulatória e técnica tem que ser considerada. Algumas coisas até tem funcionado bem”, admitiu o presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Eletrica, Guilherme Velho.
A expansão da geração é uma coisa que funcionou bem nesse jogo, na opinião do executivo, pois conseguiu atrair investimentos maciços na implantação dos empreendimentos; enquanto a transmissão tem um pouco mais de problemas. Mas é preciso reconhecer que tem surgido cada vez mais dificuldades e impasses regulatórios que, com frequência ate maior do que os investidores admitem, levam as decisões para a esfera judicial. “Isso também são sinais de que está havendo um estressamento do modelo atual. Ou seja, ele esta precisando, de fato, ser reciclado, renovado, mas sem perder alguns fundamentos que precisam ser preservados”, completa o dirigente da Apine.
No curto prazo, a agenda do setor tem muitas questões pendentes que necessitam de solução urgente, afirma Velho. Ele cita como exemplos a questão da repactuação do risco hidrológico para a contratação de energia no mercado livre; o deslocamento das hidrelétricas provocado pela geração fora da ordem de mérito de usinas térmicas e a questão das exposições residuais dos geradores hidrelétricos.
As promessas do governo são de realismo na expansão da oferta, o que agrada os investidores. Mas não apenas isso. Há uma série de questões regulatórias e algumas de caráter legal que deverão abarcar temas como aperfeiçoamento dos modelos computacionais, formação de preços de curto prazo, mecanismo de realocação de energia, estimulo ao mercado livre, leilões de energia. Um dos pontos centrais é como diversificar as fontes de financiamento do setor.
Defensor do uso de novas tecnologias, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Luiz Barroso, observa que elas exigirão novos procedimentos de planejamento e operação, flexibilidade e análises mais sofisticadas, além de modelos mais aderentes a essa realidade. “Precisaremos de processos adaptativos”, afirmou Barroso, durante palestra no evento da Apine.
Em relação à revisão do modelo, o executivo rejeita a adoção de remendos que criem verdadeiros “puxadinhos” no setor. Para Barroso, o futuro do setor elétrico, que já se verifica em mercados mais desenvolvidos, talvez demore a chegar ao Brasil “mas o fato é que o modelo setorial atual é baseado em uma série de hipóteses que não se verificam mais e, por consequência precisa de ajustes.”