A iniciativa de desenvolver novos projetos e tecnologias para o setor elétrico por meio de armazenamento de energia é apenas um dentre uma gama de ações que o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação tem em seu foco de atuação. Entre as iniciativas está a de estimular a capacitação de mão de obra por meio do Ciência sem Fronteiras, o desenvolvimento de projetos solar na modalidade CSP (solar concentrada) e até mesmo um laboratório de testes para certificação de equipamentos eólicos dentro do país.

Segundo o coordenador geral de tecnologias setoriais do MCTI, Eduardo Soriano, o ministério atua em projetos em que as tecnologias ainda não são utilizadas. A referente ao armazenamento, exemplificou ele, na realidade começou com os primeiros movimentos há cerca de seis ou sete anos. Na época a ideia era a de atuar em três campos diferentes, entre eles o desenvolvimento de baterias para equipamentos portáteis como tablets, celulares e notebooks. Uma segunda via era de baterias para armazenamento destinadas ao setor elétrico, e ainda, esse dispositivo para veículos elétricos.

Contudo, o plano inicial não foi adiante, e retomou com mais força recentemente com a chamada pública nº 21 da Aneel que teve ajuda do MCTI. E cujos trabalhos envolvem a missão diplomática que ocorre essa semana no Reino Unido para apresenta casos no país, colocar as distribuidoras em contato com universidades britânicas e até mesmo fechar parcerias com empresas interessadas no potencial mercado de armazenamento brasileiro. Além desse mercado, o ministério trabalha no atual momento para desenvolver outras ações no setor. Entre elas, destacou Soriano, está a solar concentrada (CSP) cujo projeto piloto de 1 MW em Pernambuco e que é desenvolvido em parceria com o Cepel, Chesf e Universidade Federal de Pernambuco, apesar de atualmente estar um pouco atrasado, reconhece o representante do ministério. Mas, Soriano se mostra otimista já que mesmo com o atual status da CSP houve sua participação no mais recente leilão da Aneel para a fonte solar.

“Essa fonte apresenta despachabilidade, pois a inércia térmica favorece a fonte, pois mesmo com sombra o calor permanece por um tempo e dependendo do fluido utilizado fica por mais tempo. E ainda, há o armazenamento térmico nessas usinas que podem guardar o calor durante o dia e gerar à noite”, disse. “É um verdadeiro vertimento de calor”, explicou. Outras possibilidades que o país possui ainda passam pelo uso do potencial de marés ao utilizar o nível das marés, principalmente no Nordeste, onde a diferença entre a alta e a baixa pode alcançar até oito metros.

E ainda, o desenvolvimento da cana-de-açúcar por meio de um modelo transgênico que pode dobrar a produção de etanol e de biomassa que pode ser aplicada para a cogeração, aumentando a capacidade de produção da fonte. Nessa última, em específico, a biomassa pode, a depender da opção do usineiro, transformar o que restou da cana em outros produtos de alto valor, ressaltou. Atualmente a produção por hectare está em cerca de 120 toneladas no Sudeste, com o novo tipo poderia aumentar para até 300 toneladas na mesma área. Os estudos do MCTI já conseguiram alcançar o volume de 200 toneladas. Agora, o que vem preocupando Soriano é a questão da regulação diante de tantas tecnologias que estão surgindo. Inclusive, ele citou que esse aspecto regulatório não é visto como uma barreira somente por aqui. Na Europa existem essas indicações de que a regulação pode limitar o desenvolvimento dessas fontes mais inovadoras.

Um exemplo, comentou, é a figura do agregador de carga, que surgiu na Europa. “A regulação é necessária por conta dos serviços a serem prestados. Essa nova figura surgiu como uma empresa que compra energia no varejo por um preço e vende no atacado a um valor mais caro. Ele compra excedentes de geração distribuída, de capacidade ociosa e de outras empresas para vender a quem está a fim de adquirir essa energia”, exemplificou. Mas, disse ele, os recursos são escassos para tocar todas as iniciativas.

Uma dessas que precisaria de mais investimentos se trata de um centro de testes para a fonte eólica. O projeto existe mas o custo é de algo ente R$ 400 milhões a R$ 500 milhões. Seria um laboratório ao modelo do que já existe nos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha que realizaria as certificações dos equipamentos nacionais nas condições de ventos brasileiros. “Os nossos equipamentos testam aqui no Reino Unido, precisam entrar na fila e ainda não são testados nas nossas condições. É um projeto que temos que foi feito pelo MCTI com estudos em parceria com a ABEEólica, Abimaq e outras empresas” disse Soriano. “É como se fosse um Inmetro”, definiu.

*O repórter viajou a convite do Consulado Britânico no Rio de Janeiro.