Para conseguir atingir as metas estabelecidas voluntariamente no Acordo de Paris, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, grupo conhecido pela sigla BRICS, precisarão instalar anualmente 498 GW de capacidade com fontes renováveis, o que corresponde a investimentos de US$ 177 bilhões por ano. No total, será necessário investir US$ 975 bilhões para cumprir a meta de mais de 1.250 GW de energia renovável em 2030. A maior parte deste investimento (US$ 622 bilhões) será na China, seguida pela Índia (US$ 157 bilhões) e Brasil (US $ 120 bilhões).
 
O relatório que estuda as metas de cada um desses países foi divulgado pelo o Instituto de Economia e Análise Financeira de Energia (IEEFA) às vésperas da 8ª cúpula anual dos BRICS, que acontece nos dias 15 e 16 de outubro em Goa, na Índia. O Acordo de Paris passa a vigorar a partir de 4 de novembro deste ano – e no âmbito desse acordo, todos os países signatários apresentaram metas de redução das emissões dos gases de efeito estufa. Na prática, isso significa usar menos energia movida a combustíveis fósseis (petróleo, carvão).
 
De acordo com o relatório do IEEFA, as atuais metas de energias renováveis dos BRICS exigem um investimento anual de US$ 51 bilhões além do montante alocado para aumentar a capacidade de energia renovável em 2015. Esta lacuna de investimento precisa ser preenchida por financiamentos combinados e catalisada por recursos públicos. O relatório conclui que cerca de US$ 10 bilhões anuais precisam vir de instituições financeiras públicas, como o New Development Bank (NDB), o banco de desenvolvimento criado pelos BRICS em 2014 para expandir o investimento de infraestrutura nos países membros, tendo a sustentabilidade e as energias limpas como um de seus princípios.
 
Jai Sharda, autor do relatório, disse o NDB planeja aumentar sua carteira de crédito em cerca de US $ 1,2 bilhão por ano ao longo dos próximos 3 anos, o que é apenas 11,7% do capital incremental exigido pelas instituições públicas.  "Portanto existe uma clara necessidade de aumentar a taxa com a qual ele implanta capital adicional. Além disso, o NDB precisa garantir que daqui para frente, ele continua a se concentrar no financiamento de projetos de energia renovável."
 
Em 2015, os países em desenvolvimento já ultrapassaram as nações desenvolvidas no investimento em energias limpas. No contexto pós-Paris, investimentos em baixo carbono e infraestrutura limpa podem ultrapassar as economias em desenvolvimento no caminho para um mundo com emissões líquidas zero, se as necessidades de financiamento forem atendidas. 
 
A diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, Ana Toni, defendeu que agenda climática seja colocada no cerne da agenda econômica dos BRICS.  "Energia é uma premissa vital do crescimento econômico e da inclusão social e, com a entrada em vigor do Acordo de Paris, o único caminho possível é o das energias limpas. Boa parte da matriz energética do Brasil vem de fontes limpas, mas se quisermos cumprir efetivamente lutar para que o aquecimento global não comprometa nossa agricultura, nossas cidades e a saúde dos brasileiros, precisamos avançar ainda mais, unindo todos os agentes econômicos em torno de uma agenda de desenvolvimento de baixo carbono".
 
O NDB, também chamado de Banco BRICS, coloca o financiamento para o desenvolvimento sustentável como um dos seus objetivos principais. Até agora, ele concedeu cinco empréstimos equivalentes a US $ 911 milhões, contemplando cada um dos sócios fundadores. Quase todos foram em projetos de energia limpa, em linha com a agenda declarada do banco. Na opinião de Jai Sharda, será necessário um grande impulso por parte do banco para colocar as nações do BRICS em maior órbita de energia limpa.
 
Peng Peng, Diretor de Pesquisa Política da União da Indústria Chinesa de Energia Renovável disse: "O NDB deve apoiar o desenvolvimento de energias renováveis nos países BRICS, que são representantes do mundo em desenvolvimento, para reduzir os custos de energia no longo prazo e a dependência dos combustíveis fósseis. Atualmente, os custos de financiamento na maioria dos países em desenvolvimento são muito altos. O NDB poderia ter seus próprios programas de apoio à energia limpa e poderia apoiar os programas BRICS a alcançar financiamento de baixo custo e longo prazo no mercado financeiro internacional ".
 
Srinivas Krishnaswamy, CEO da Vasudha Foundation, destacou que, embora o NDB tenha definido determinados tipos de investimentos como elegíveis para financiamento, a falta de uma definição clara do que é desenvolvimento sustentável permite que alguns projetos classificados como "carvão limpo", por exemplo, acabem sendo financiados pelo Banco. "Se o NDB vai ser algo novo, ele terá de romper com o modelo até agora seguido de apoiar modelo de desenvolvimento orientados para a extração."
 
A reunião do conselho do New Development Bank será realizada simultaneamente a reunião da 8ª cúpula anual dos BRICS. Esta é a primeira reunião BRICS após o Acordo de Paris, que entrará em vigor este ano. No contexto pós Paris, essas nações podem superar as economias desenvolvidas no caminho para um mundo com zero emissões líquidas dos gases de efeito estufa.