O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Barroso, defendeu nesta segunda-feira, 17 de outubro, a importância da manutenção da matriz hidrelétrica brasileira para garantir a expansão das fontes alternativas. A fala do executivo aconteceu em resposta a questionamentos sobre como o Brasil pretende atingir os compromissos firmados no Acordo de Paris, que passará a vigorar a partir de 4 de novembro.
 
Durante a COP 21, o Brasil assumiu voluntariamente o compromisso de buscar o percentual de 66% de fonte hídrica na geração de eletricidade e 23% das fontes alternativas (eólica, solar e biomassa). O país também se comprometeu a aumentar, até 2030, em cerca de 10% os projetos de eficiência energética e ampliar em 16% o uso de etanol e das demais biomassas derivadas da cana-de-açúcar no total da matriz.
 
"Nós teremos que ser 23% renováveis na produção. Ela não é uma meta em valor absoluto, também condicionado a 66% de participação da hidrelétrica. Isso reforça a importância da hidroeletricidade para garantir a penetração e participação das fontes renováveis", declarou o executivo durante conferência internacional sobre açúcar e álcool em São Paulo.
 
Barroso disse que o governo está estudando os meios de atingir esse objetivo e avisou que a proposta final será colocada em consulta pública. "A gente quer escutar, quer ter ideias. Queremos colocar a nossa proposta de atendimento da INDC para discussão com todos os senhores." Barroso argumentou que a contribuição do Brasil para a descarbonização do planeta não precisa vir apenas com base na contratação de novas usinas via leilões promovidos pelo governo. "No setor elétrico a gente pensa em ter leilão. Leilão é um dos mecanismos."
 
Segundo o presidente da EPE, é preciso "abrir a cabeça" para novas ideias. Ele citou como exemplo o modelo adotado pelo Chile, que pretende chegar em 2050 com 50% da matriz energética formada por fontes renováveis. Ele explicou que o governo chileno criou uma taxação sobre a emissão de carbono e também criou um sistema de comercialização de certificados de energia limpa. Caso esses mecanismos não se mostrem totalmente eficientes para atingir a meta, completa-se com a contratação de fontes renováveis via leilões.
 
"Não estou dizendo que o Brasil fará isso, mas estou levantando esse fato para uma solução que é bastante interessante, bastante fora da caixa do que a gente ficar refém do modelo de leilão", disse Barroso. "Hoje a gente está discutindo como fazer. Existe uma série de ideias, e quando a gente tiver uma posição, a gente vai levar uma consulta pública." Segundo o executivo, pode ser que o Brasil atinja os 23% de renováveis antes de 2030, “por uma questão associada pela falta de demanda”.
 
A matriz elétrica brasileira é formada por 61,23% de fontes hídricas, 17,17% de fontes fósseis, 8,94% biomassa, 6,14% eólica, 5,22% importação e 1,27% nuclear, segundo o Banco de Informações da Geração (BIG) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).