O risco de que mudanças regulatórias comprometam o retorno do investimento é o principal obstáculo para que geradores de energia invistam na construção de usinas exclusivamente financiadas por contratos no mercado livre, disse o vice-presidente da Brookfield Energia Renovável, André Flores.

A discussão sobre uma ampliação do mercado livre de energia no Brasil esbarra justamente no desafio de como garantir a expansão da matriz elétrica. Hoje os contratos de fornecimentos de 30 anos com as distribuidoras permitem com que haja previsibilidade dos recebíveis para que o BNDES financie os projetos. Contudo, os especialistas entendem que esse modelo se esgotou e que será preciso encontrar novas formas de garantir a expansão da matriz.

"O que você precisa viabilizar é um ambiente regulatório estável, que você consiga prever com uma certa segurança os preços de energia. Esse ano a gente teve muitas discussões sobre mudanças na forma do cálculo de preço de curto prazo e isso amedronta o investidor na hora de se comprometer com um projeto que vai ter um payback de 15-20 anos. Ter essa segurança regulatória é muito importante", disse o executivo durante participação no 4º Encontro Nacional de Consumidores Livres, nesta quarta-feira, 19 de outubro, em São Paulo.

Para ele, é possível financiar empreendimentos de geração sem o apoio de contratos de longo prazo e do BNDES. "Acho que aqui no Brasil a gente fica preso a como tem sido o mercado nos últimos 10 anos, com contratos de longo prazo indexados ao IPCA e financiamento exclusivamente do BNDES. Isso não é verdade para outros países latinos americanos", comentou o executivo. "Sempre investimos no Brasil mesmo quando não tínhamos contratos de longo prazo financiados pelo BNDES e fazemos isso até hoje em outros países."

Contudo, disse Flores, é preciso que o modelo reflita o real custo da energia para dar segurança ao investidor. "A gente como Brookfield teria total confiança de fazer um investimento de 20 anos com base em contratos do mercado livre de cinco anos, porque tenho expectativa que essa energia será necessária para o mercado e será a preço justo."

Na sua avaliação, a separação da potência e energia também abriria caminho para a expansão da matriz via mercado livre, inclusive contando com financiamento internacional. Nesse novo modelo, o agente ficaria com o risco de curto prazo, mas viabilizaria o projeto vendendo a potência para o sistema no longo prazo. Para ele, o risco de mercado é algo presente em qualquer negócio. "Acho que a gente tem que mudar a mentalidade e entender que são riscos inerentes do negócio e que muitos investidores ficariam confortáveis com isso."

A Brookfield é um grupo de investimentos canadenses que tem em seu portfólio no Brasil 1,5 GW em empreendimentos operando ou em construção.