A AES Tietê conta desde abril com o Ítalo Freitas como diretor presidente e nesse período a companhia passou a se chamar AES Tietê Energia devido à mudança organizacional pela qual a AES Brasil passou recentemente. A geradora já era apontada como o braço de crescimento do grupo no país e agora está em plena execução de seu planejamento estratégico. A meta é de alcançar um incremento de cerca de 30% em sua capacidade de geração no país nos próximos anos. Ou seja, passar dos atuais 2.658 MW para algo próximo a 3.455 MW.
De acordo com o executivo a empresa se coloca na ponta compradora de projetos. No foco estão a fonte eólica e a solar, de preferência no mercado regulado para mitigar o risco do ACL, ambiente no qual está 100% da energia da empresa depois de encerrado o contrato bilateral que tinha com a AES Eletropaulo em dezembro do ano passado. Freitas destacou ainda que apesar disso o mercado ainda não adequou o preço desses projetos à situação do país.
Além dessas duas fontes, a empresa ainda mantém esperanças de colocar projetos térmicos a gás natural, um deles, a Termo São Paulo, já está pronto há alguns anos, mas não encontra espaço para entrar nos leilões da Aneel. Aliás, em sua avaliação, esse tipo de usina no Brasil só deverá ter alguma possibilidade em um horizonte de dois a três anos. Confira a seguir os principais trechos da entrevista exclusiva de Ítalo Freitas á Agência CanalEnergia:
Agência CanalEnergia: A AES Tietê Energia já vinha sendo apontada como o braço de crescimento do grupo AES no país. Quais caminhos a empresa deverá seguir em geração?
Ítalo Freitas: Essa é uma responsabilidade grande. É uma empresa saudável e pagadora de dividendos. Nossa grande missão é mostrar para o investidor que temos condições de crescer e com bons projetos. Esse é o grande mote da empresa, crescer não somente em MW mas em retorno. Basicamente, como é que estruturamos a AES Tietê Energia? Hoje 100% de nossa energia está no mercado livre e 100% dessa energia é de geração hidrelétrica. Sabemos bem que nos últimos a geração vem sofrendo constantes problemas hidrológicos e, com isso, todo o setor vem sofrendo, e tanto que vimos surgir um novo acrônimo que ninguém conhecia e apareceu como se fosse uma nova entidade e afetou muito gente, o GSF.
Diante dessa situação toda, fizemos um novo programa estratégico mirando a redução do risco hidrológico, que envolve diversificar nosso portfólio. Nossa ideia é primeiro reduzir a exposição ao risco hidrológico no mercado livre e, vamos dizer assim, focar em renováveis. Essa questão já é um desdobramento da AES Corp, e ainda decidimos seguir em aquisições no setor eólico principalmente, um fator já conhecido e ainda olhar para projetos greenfield no setor eólico e solar.
Agência CanalEnergia: Qual é a meta da AES Tietê Energia em termos de portfólio no médio prazo?
Ítalo Freitas: A gente está imaginando nos próximos anos adicionarmos 30% da atual capacidade da Tietê em nova geração renovável. O foco agora é mitigar o risco hidrológico no mercado livre para que isso gere conforto aos acionistas.
Agência CanalEnergia: Esses projetos alvo da empresa seriam no mercado livre ou no regulado, por meio da aquisições e participação de leilões da Aneel?
Ítalo Freitas: A maioria deverá ser no mercado regulado. Gostaríamos dos dois ambientes, mas como já estamos com muita energia no ACL deveremos buscar o mercado regulado e os PPAs de longo prazo para mitigar o risco.
Agência CanalEnergia: O mercado tem apresentado a maioria de oportunidades em geração hidráulica, como a da Duke recentemente vendida à CTG. Há ativos à venda que seriam de interesse da empresa na fonte eólica e solar?
Ítalo Freitas: Existem oportunidades no mercado sim. Entretanto, os preços não estão coniventes com a situação do país. Estamos analisando projetos, mas não se sabe se há a possibilidade de fechar negócios a curto prazo. Precisa de mais análise financeira ainda mais que temos risco no mercado, mesmo no setor eólico. Já na questão de solar os projetos são praticamente greenfield, pois a grande maioria ainda não foi iniciada ainda. Além disso, ainda temos um projeto pronto para entrar no leilão de energia de reserva de dezembro de 150 MW de capacidade na região da UHE Água Vermelha.
Agência CanalEnergia: O grupo AES possui alguns projetos de armazenamento de energia no exterior. No Brasil as iniciativas estão apenas começando. O que poderemos ver chegar ao país por meio dessa tecnologia em sua opinião?
Ítalo Freitas: A necessidade de guardar energia ficou cada vez mais necessária e a coisas vieram justamente num momento que coincidiu com a redução de custos de baterias de lítio, com isso a AES Corp desenvolveu a tecnologia Advancion onde aplica a tecnologia a varias situações. Uma delas é a grande quantidade de renováveis crescendo em vários países e com a sua variabilidade muito grande há a necessidade de estabilizar o sistema. Uma segunda aplicação é no lado da transmissão de energia que pode ajudar na redução de investimentos em novas linhas, um fator que ajuda o planejador do sistema, até porque vemos um processo complexo para se viabilizar o licenciamento para esse tipo de projetos. E ainda, há uma outra alternativa que é a de peak shaving que consiste em entrar com a bateria no pico do consumo e depois, durante a madrugada a bateria vai ser recarregada. Temos um projeto de 150 MW na California onde ganhamos a concorrência contra uma térmica a diesel.
Aqui no Brasil vemos uma situação para o futuro quando olhamos a questão do Nordeste, onde há uma grande quantidade de eólicas e, agora, com o iminente avanço da solar nos próximos anos. Além desse, temos o sistema isolado no Norte do país, o energy storage é uma boa aplicação para cidades e vilarejos com necessidade de acúmulo de energia para garantir confiabilidade de fornecimento. No sudeste aplicação seria para atender a questão do pico de demanda.
Agência CanalEnergia: A AES Tietê tem projetos térmicos prontos que não são viabilizados. Como ficam essas usinas?
Ítalo Freitas: Temos ainda nosso compromisso de expansão da capacidade. Continuamos desenvolvendo os projetos térmicos. Temos a Termo São Paulo ainda ativo e o projeto com a Emae na área da usina Piratininga (UTE Fernando Gasparian, na zona sul da capital paulista) que está em fase de estudos ambientais e um terceiro com a Lerus Energia de uma usina e ponto de regaseificação na cidade de Peruíbe (litoral sul do estado), que se conectará ao sistema do estado de São Paulo, uma planta 750 MW. Mas, acredito que em um horizonte de dois a três anos não deveremos ter nenhuma possibilidade de projetos dessa natureza entrar no leilão. Mas estamos preparando para ficarem prontos na prateleira em caso de acontecer o leilão.