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A UHE Jirau (RO, 3.750 MW) alcançará um marco importante nesta terça-feira, 15 de novembro. Está planejada para este dia a sincronização da última turbina, de um total de 50 unidades, ao Sistema Interligado Nacional. Com isso, a companhia tem praticamente o encerramento das obras cujo início se deu no dia 19 de maio de 2008 com a realização do leilão para a usina onde a Energia Sustentável do Brasil (à época, um consórcio) venceu a disputa com um lance de R$ 71,40/MWh sobre o preço inicial de R$ 91/MWh para os 70% da energia que seria negociada no mercado regulado.

Segundo o presidente da Energia Sustentável do Brasil, Victor Paranhos, com esse marco a empresa tem agora no seu foco de atuação algumas melhorias que vêm sendo implementadas e que poderão adicionar cerca de 25 MW médios de energia assegurada à central. Após essas ações que deverão ser encerradas em meados do ano que vem, a única preocupação em termos operacionais da central ficará com a geração de energia propriamente dita.
Contudo, quanto a questões regulatórias ainda há um grande trabalho a se fazer e que responde pelo acrônimo de GSF. Em entrevista exclusiva, o executivo diz que esse ainda é o maior problema que a concessionária tem a enfrentar. Em um cálculo prévio, a estimativa é de que esse fator deverá responder em 2017 por 12% da receita líquida da geradora.
Antes da virada do ano, comentou Paranhos (que deverá ficar à frente da usina até meados do ano que vem, quando se encerra seu contrato), a UHE será inaugurada oficialmente. A data prevista é de 16 de dezembro. Desde o início da obra havia a orientação de que a usina passaria ao portfólio da Engie Brasil Energia (antiga Tractebel Energia) que pertence à maior acionista da usina, a Engie (ex-GDF Suez). Paranhos, que afirmou estar à procura de novos desafios, disse que este assunto deve ser tratado junto aos sócios da concessionária. Veja abaixo os principais trechos da entrevista concedida à Agência CanalEnergia.
Agência CanalEnergia: As obras da usina estão próximas a sua conclusão? Qual é a previsão de que todas as unidades de geração estejam em operação comercial?
Victor Paranhos: A última unidade é a UG 48 que deverá ser sincronizada ao SIN no próximo dia 15 de novembro. Após os testes entramos com o pedido de operação comercial. Acredito que entre o dia 21 e 22 de novembro tenhamos as 50 turbinas em operação comercial.
Agência CanalEnergia: Com esse marco acabam as obras ou ainda há ações que a empresa vem conduzindo?
Victor Paranhos: Uma coisa que estamos fazendo no momento é um upgrade de turbinas para melhorar a performance dessas unidades. Os primeiros testes mostram que conseguimos mais do que os 75 MW de capacidade em cada uma que é nosso compromisso de concessão. E isso temos obtido tanto com as máquinas da China quanto da Europa. Estamos investindo agora para mudar todo o sistema de refrigeração da margem direita. O rio Madeira tem muito sedimento e como sempre se usa a água do rio para refrigeração das unidades, temos uma quantidade grande de sedimentos. Estamos montando uma estrutura especial para água filtrada para esse uso e uma mudança na estrutura do controle de velocidade das máquinas.
O investimento nessas ações não é nada relevante, cerca de R$ 10 milhões. Outra coisa importante que o ONS e a Aneel gostaram e até elogiam é a readaptação de todo o black start da usina. Agora, se cai o linhão, o sistema consegue recolocar energia na rede entre 15 e 20 minutos, antes demorava cerca de uma hora. Não era obrigação que tínhamos, mas é importante para o linhão e o sistema como um todo. Somente com essas melhorias há muito a fazer nos próximos seis a oito meses.
Agência CanalEnergia: Qual é o ganho com essas melhorias de performance das turbinas e qual deverá ser o destino dessa energia adicional?
Victor Paranhos: A gente tem que parar essas intervenções em janeiro e deixar as 50 unidades disponíveis para o ONS em função da cheia do rio. Eu volto a fazer isso somente em junho, quando começo a parar máquinas por falta de água. Com essas ações achamos que podemos ganhar algo entre 0,4 a 0,5 MW médios por máquina, ou seja, como são 50 unidades podemos ter aí cerca de 25 MW médios, é quase a potência máxima de uma PCH. Mas esse é um processo demorado tem que fazer testes com certificação, então isso vai para 2018 quando a ideia e fazer um pedido único na Aneel. Esse ganho aumentaria a nossa energia assegurada que provavelmente será utilizado para mitigação de efeitos do GSF.
Agência CanalEnergia: E como está a questão da operação de Jirau em cota constante, que adicionaria cerca de 200 MW médios à usina?
Victor Paranhos: Essa é outra boa notícia, é um acordo de Estado, pois envolve uma usina binacional, e que está caminhando bem. Houve a assinatura do acordo entre as Eletrobras e a Ende (Empresa Nacional de Electricidad Bolivia) para o projeto básico da binacional. Uma usina que vai para algo próximo a 3 GW de capacidade instalada e que deve ser mais eficiente do que Jirau porque dependendo da cota é possível ter turbinas Kaplan ao invés da Bulbo. E é importante essa usina para que consigamos operar em cota constante.
É possível que se consiga fazer estudo básico em 18 meses e acordo Brasil-Bolívia que não é difícil, temos a experiência Itaipu e com a Argentina. É possível lançar o edital de construção para 2019 ou 2020. Outra grande vantagem é financeira, por ser  binacional a tarifa é em dólar e hoje, a gente viu, o que tem de capital externo de banco de desenvolvimento do mundo todo e do próprio fornecedor de equipamento disponível. Conseguiríamos aproveitar a liquidez que existe no mundo.
Agência CanalEnergia: Em termos de operação da usina, depois dessas ações de melhorias o foco se volta apenas para a geração?
Victor Paranhos: Sim, é a operação meramente e esperamos que em 2018 seja somente a operação.
Agência CanalEnergia: Um ponto polêmico que a empresa reivindicou junto à Aneel é a questão do excludente de responsabilidade, que teria um peso importante nas contas da companhia. Como está esse processo?
Victor Paranhos: Quanto ao excludente nós ganhamos em primeiras instâncias. Na última decisão que nos foi favorável, o juiz determinou que ficássemos no zero a zero, ou seja, não tem penalidade e não tem a receber. Agora eu imagino que a próxima decisão só daqui a uns três anos apenas. Até lá fica em aberto essa questão. A nossa posição continua de negociar. Conseguimos mesmo com duas greves e incêndios que paralisaram as obras por seis meses e depois mais três meses, adiantar a UG 44 que era última do cronograma original em quatro meses. Essa era a antecipação [meses de obra parada] que esperávamos ter quando fizemos a proposta de preços no ACR no leilão em 2008.
Agora, a grande questão inclusive o presidente da Engie no Brasil, Maurício Bähr comentou, é que o governo tem que dizer o que é a responsabilidade de cada agente ou de governo e de forma mais clara porque para Aneel tudo é risco do investidor. Um exemplo são duas térmicas no Ceará que tiveram um aumento significativo em uma taxa de uso da água no estado e considerou risco do investidor. Em nenhum lugar do mundo o investidor vai precificar o risco de governo, tributário, regulatório por antecipação. Tem investidor que não é santo, claro, mas tem que estar claro o que é risco de governo e do investidor.
Agência CanalEnergia: A questão do GSF também é um ponto que vem sendo discutido pela empresa…
Victor Paranhos: Sim, e esse é o maior ponto que nos concerne. O governo tem que encontrar uma solução nova para o mercado livre, pois o que foi colocado para o ACL é muito ruim. Esse é o grande problema de Jirau. Esse ano, para a gente, a conta que está sendo gerada é de R$ 150 milhões e para 2017 as projeções que temos apontam para um custo de R$ 220 milhões. Ou seja, é insuportável, representará 12% da receita líquida, após impostos e Tust para ao ano que vem. Hoje tenho 70% da minha energia no mercado regulado e 30% no ACL e estamos protegidos a partir de um GSF de 90%. O nosso grande problema desse ano é o GSF sem dúvida.
Agência CanalEnergia: A usina ainda tem energia descontratada?
Victor Paranhos: Está toda a contratada não tenho nada em aberto… Aliás, tenho um déficit de lastro porque fui obrigado a colocar 100% da expansão da usina no A-3 de 2011. O que me descontrata eu jogo para esse déficit. Ainda temos em Jirau algo de 50 a 70 MW médios comprando no médio e longo prazo. Além dessa questão do A-3 tem o consumo interno. Quando se fez a conta de consumo interno todo mundo usou padrão de usina Kaplan e Francis, mas na turbina tipo bulbo o consumo é muito superior.
Agência CanalEnergia: Recentemente houve um leilão com a energia que foi descontratada por distribuidoras. Qual foi o resultado dessa venda?
Victor Paranhos: Essa energia ficou liberada por conta da suspensão do contrato de uma distribuidora que estava sobrecontratada e que tem duração de dois anos, até dezembro de 2018. Fizemos 22 convites e tivemos 18 propostas sendo três vencedores para um volume de mais de 60 MW médios. Essa energia foi destinada ao mercado livre e quem comprou foram comercializadoras. O mais interessante desse processo é que essa energia era de uma distribuidora que estava inadimplente conosco. Deixamos, portanto, de ter essa inadimplência daqui para a frente e ao mesmo tempo conseguimos um valor interessante para essa energia. E, quero ressaltar que continuamos abertos a essa possibilidade. Mas, até este momento não temos outras negociações em andamento.