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Há um novo ecossistema nascendo no mundo da energia e quem se recusar a pensar nele vai ficar obsoleto. Assim é como define o palestrante Ricardo Neves as inovações tecnológicas que desembarcam em diferentes locais do mundo e que vêm mudando a forma de relacionamento entre as pessoas e esse insumo que cada vez mais ganha importância na vida moderna. O problema é que mesmo em uma ampla plateia de empresa do setor, apenas 30% das pessoas sabem o que é smart grid, o ponto de partida para essa revolução. E esse é um fator que evidencia uma característica do setor no país: de que nas cabeças da atual geração ainda estão enraizadas em ideias e conceitos do século passado.

Para Ricardo Neves, que é engenheiro eletricista e eletrônico por formação e colunista da revista Época, a tecnologia vem promovendo o que classificou de ‘uberização do setor’, ou seja, qualquer consumidor poderá ser um gerador no futuro. E esse fenômeno vai acontecer em um determinado momento, independente de marco regulatório ou não, forçando os governos que não se abrirem a essas tendências a ter que correr atrás do tempo perdido.
E a posição do Brasil é justamente essa, o país está atrasado nesse processo de transição, muito em decorrência de políticas públicas antigas, em contraste a nações mais abertas a essas inovações no setor elétrico. “Estamos atrasados em termos de mentalidade, é necessário procurar abrir os armários e tirar os esqueletos que temos”, definiu Neves. “Ao mesmo tempo, precisamos ajudar as pessoas a ver duas curvas à frente do atual momento, pois Brasil tem potencial, mas precisamos saber se vai ser eternamente o país de um futuro que nunca chega”, acrescentou.
E não faltam exemplos caseiros para que se tenha uma mudança de paradigmas no setor elétrico nacional. Segundo ele, a analogia com a evolução da Telecom é inexorável. Saímos de um sistema de telefonia fixa com a desregulamentação do setor nos anos 2000 para dar um salto, pois o país passou a acreditar na inovação e na força de mercado. E isso, sem o estabelecimento de oligopólios com clientes escravizados. No setor elétrico, é possível entrar em um círculo virtuoso desses com o encerramento da departamentalização em GTD em favorecimento da inovação, que permite a ‘internetização’ da energia elétrica em uma perspectiva de ganha-ganha.
“Eu costumo dizer em minhas palestras que, basicamente, estamos em transição. Vivemos há duas gerações que estamos acostumados com o modelo antigo da energia elétrica que é basicamente uma solução que envolve o empreiteiro com um político”, comentou Neves. “E no Brasil o DNA da energia passa pela cultura de Itaipu. É necessária uma mega barragem que deslocou 44 mil pessoas para ser viabilizada, feita pela ditadura militar e que hoje é irreplicável no mundo, hoje é necessário que se negocie com todos os stakeholders de um projeto, e convencer essas pessoas que se caminha para a minimização dos impactos ambientais”, acrescentou.
O modelo que é alvo dessa reflexão tem como base justamente a forma nacional de produzir, transmitir e distribuir energia, em um modelo com raízes no passado, mas replicado pelos últimos governos, que em sua opinião se negaram a avançar na implementação de políticas que favorecessem a introdução das novas tecnologias. “Era um governo avesso a inovações”, descreveu. “O compromisso era com uma política obsoleta que além da barragem necessita de outro ativo para transmissão da energia e que faz essa produção ser distribuída por monopólios territoriais. Ou seja, em plena metade da segunda década do século 21 estamos com um modelão da década de 70, estabelecido ainda na ditadura militar”, disse.
A diferença entre o modelo que se aplicou no Brasil ante o que é visto lá fora fica mais latente quando essa comparação é feita com a mudança que vem sendo implementada na Alemanha desde que o atual governo da premiê Angela Merkel assumiu, por volta do ano 2000. O sentimento que norteou essa política tem origem ainda na década de 80 quando aconteceu o acidente com a central termonuclear de Chernobyl, na ex-União Soviética, atual Ucrânia.
Neves lembra que ao assumir o governo daquele país foi montada uma coalisão com os Verdes no sentido de ‘desnuclearizar’ a geração por lá e isso envolvia o desligamento gradual de 19 usinas que forneciam à época uma importante parcela da energia consumida. “Depois veio o caso de Fukushima que levou à aceleração desse processo que vem sendo feito de forma pragmática para um modelo de energia inteligente, que é pensar nesse produto como a internet, onde você pode fazer o download e o upload”, comparou, ao fazer a analogia com a geração distribuída, quando uma unidade de consumo com sistema instalado pode ser o consumidor (download) ou o produtor com excedente (upload) ao injetar essa energia na rede.
Para Neves, que apresenta a palestra Energia Inteligente – Tempo de Pensar Fora da Caixa, a resolução no. 482/2012 da Aneel (e seu posterior aprimoramento) são classificadas pelo executivo como um prenúncio de um novo tempo, mas que ainda é tímida para o tamanho do mercado nacional. Essa avaliação se baseia no volume de sistemas GD em operação no Brasil ante o que se vê na Califórnia. Ele lembra que por aqui mal se alcançou o número de 5 mil instalações, enquanto somente no estado norte-americano o crescimento em um ano apenas foi de quase 100%, passando de 550 mil unidades para quase 1 milhão.
Sem um amplo programa de smart grid no país que traria a modernização necessária para a rede não será possível ver essa mudança de pensamento e de tratamento para a energia por aqui. “Hoje temos apenas cinco iniciativas isoladas para a implantação de redes inteligentes, precisamos aumentar isso aí, não dá para pensar em GD sem modernização da rede, não adianta linhão e geração centralizada distante dos centros de consumo, precisamos pensar em smart grid, que possibilita, efetivamente, o crescimento exponencial dos sistemas de geração distribuída, sem isso, nada feito”, apontou.
E mais, destacou ele, o setor elétrico se moderniza muito rápido, ao passo que as placas de silício que são novidades por aqui já estão ficando para trás. Já há soluções mais inovadoras como as telhas desenvolvidas pela Tesla, geração eólica mais apropriada para o seu uso em ambiente urbano e a questão da mobilidade elétrica. Para este último item não faltam exemplos, principalmente vindos da Europa onde há países já projetando o final da era de veículos movidos a combustíveis fósseis em um futuro não tão distante, como a Holanda em proibir o seu uso a partir de 2020 e diversas nações da União Europeia, como a Alemanha, que prevê não haver mais a fabricação desses em 2030. O site do palestrante é www.ricardoneves.com.br