O leilão de privatização da Celg (GO), ocorrido nesta quarta-feira, 30 de novembro, foi considerado exitoso não só pelo governo, mas também pelos analistas ouvidos pela Agência CanalEnergia. A venda para a Enel por um preço de R$ 2,187 bilhões pode criar um ambiente favorável para as privatizações das demais distribuidoras do Grupo Eletrobras, que estão programadas para ocorrer no ano que vem. Na entrevista coletiva após o leilão, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, disse que desde já os trabalhos se voltavam para esses certames.

Para Thais Prandini, diretora da Thymos Energia, a vitória da empresa italiana já era de certa forma esperada pelo mercado, mas causou estranheza o ágio de 28,03% sobre o preço inicial, considerado por ela alto. "Foi um ágio grande, o preço já era considerado complicado", explica. Não houve disputa, apenas a Enel deu lance. Havia a expectativa que outras candidatas, como a Equatorial Energia e State Grid, controladora da CPFL Energia, dessem lances, o que não aconteceu. O êxito no leilão de LTs, em que foi uma das grandes vencedoras, pode ter retirado a Equatorial do páreo. Já a decisão do governo do Rio Grande do Sul em privatizar a CEEE (RS) pode ter afastado a State Grid. Ela já controla no estado a RGE e a RGE Sul, o que lhe daria escala na região.

Para o leilão das demais distribuidoras, ela acredita que é preciso que o governo faça uma formatação ideal para a venda delas, já que não são atrativas como a Celg. O agrupamento de algumas concessões pode ser um bom arranjo. “A melhor já foi embora, as outras que sobraram não são tão boas. A Celg era um chamariz. Tem que ver o preço, se vão colocar juntas ou individual e o preço”, avalia.

Já atuando na distribuição no país com a Enel Distribuição Rio (RJ) e Enel Distribuição Ceará (RJ), a consultora acredita que a Enel terá um desafio de investimentos e melhorias na Celg, mesmo com a concessionária goiana sendo considerada a melhor em poder da Eletrobras, mas que a possibilidade de sucesso é grande. “A Enel tem potencial para ter bons resultados, avalia Thais Prandini. O country manager da Enel no Brasil, Carlo Zorzoli, frisou na coletiva que não encerrou o ciclo de investimento da Enel, lembrando que há um plano do grupo para o país.

O professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, considerou o resultado do certame positivo para o setor, enfatizando a solidez do marco regulatório brasileiro, que levou a Enel, um tradicional player global, a adquirir a Celg em um cenário econômico e político desfavorável. "Essa decisão de investimento só demonstra o potencial que o mercado elétrico brasileiro tem”, afirma.

A saída do poder estatal da Celg foi comemorada pelo presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales. Segundo ele, a venda é um caminho para o reequilíbrio financeiro da Eletrobras e resolve os problemas que assolavam a distribuidora. Para ele, a forte regulação do setor não comporta o agente público como proprietário de distribuidoras. "A gestão estatal dessas empresas foi abaixo da crítica", avalia. Sales também vê um compromisso da Enel com o Brasil ao investir mais no país. Para ele, o grande vencedor foi o consumidor de Goiás, que não tinha qualidade no fornecimento de energia.