Com a reponsabilidade de suprir a Eletronuclear com o combustível necessário para as usinas de Angra 1 e 2, as Indústrias Nucleares do Brasil busca recursos com o governo federal para garantir a ampliação do processo de enriquecimento de urânio, fazendo com que ela atinja a autonomia no processo. Serão necessários cerca de US$ 600 milhões para a segunda fase do processo, cuja primeira etapa será concluída em 2019. De acordo com o presidente da INB, Mario Tupinambá, essa segunda fase do enriquecimento vai proporcionar uma economia de US$ 51 milhões por ano para a empresa, se pagando em 12 anos. "O tempo de retorno é aceitável para um empreendimento desse porte", afirma. Esses recursos também deixariam o setor com capacidade de expansão de mais plantas nucleares que ainda estão no papel, como a de Belém do São Francisco, em Pernambuco, cogitada como próxima da fila caso o governo decida por construir mais uma termelétrica nuclear.
A INB vem se mostrando pronta para receber a demanda de combustível que virá da usina de Angra 3. Na fábrica em Resende (RJ), elementos que vão atuar desde a fase de teste já estão disponíveis. A térmica nuclear, que tinha início de operação marcado inicialmente para 2015, veio sofrendo seguidos adiamentos por conta do atraso nas obras até que a falta de recursos e irregularidades descobertas pela operação Lava Jato interromperam definitivamente o canteiro e deixaram a usina sem previsão de término. Recentemente, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, declarou que acha difícil que a usina seja concluída antes de 2021.
A segunda fase já constava do planejamento inicial da INB e deverá começar a partir da conclusão da primeira, cuja produção vai abastecer a usina nuclear de Angra 1 (RJ – 640 MW). Essa fase inicial prevê dez cascatas. Seis já estão em operação, restando a conclusão de quatro. A sétima cascata prevista deve entrar em operação em meados do ano que vem. As obras de infraestrutura vão gerar uma média de 150 empregos diretos e 200 empregos indiretos e a instalação modular de cascatas outros 250 empregos diretos e 350 indiretos. Devido a decisão de alguns países de abandonar a fonte nuclear, o minério enfrenta um período de preço baixo. ”Como commodity ele está barato”, explica Ézio Ribeiro, superintendente da INB.
Dono da sexta maior reserva de urânio do mundo, o Brasil já domina todo o ciclo que transforma o minério em combustível capaz de abastecer as plantas nucleares. Atualmente, a maior parte do enriquecimento é feito no exterior e apenas 16% do processo é feito por aqui. A execução de todo o processo de enriquecimento do urânio, além da vantagem econômica, traria a vantagem estratégica, já que nem todos os países que possuem usinas nucleares tem a tecnologia do enriquecimento. Essa autonomia de certa forma fortalece o sistema nacional, com mais opções para diversificar a matriz energética.
Tupinambá assumiu a INB em janeiro deste ano em substituição a Aquilino Senra. O outro foco que a empresa estatal está debruçada é a retomada da sua produção. O minério vem da mina de Caetité, na Bahia, mas atualmente a produção está parada, porque a capacidade da mina se esgotou e duas minas, uma subterrânea e outra em aberto, aguardam o início da produção. Segundo ele, a implantação da mina a céu aberto da mina do engenho está em fase final e o início da operação está previsto para 2017. A expectativa é que ela produza 240 toneladas de concentrado de urânio por ano. Já a lavra subterrânea está em fase de licenciamento pela Comissão Nacional de Energia Nuclear e só poderá começar a operar dois anos após obter a licença e vai fornecer 400 toneladas de urânio. A ampliação da capacidade da planta química está em fase de elaboração e licenciamento. Essa implantação vai deixar a INB cm capacidade de processar até 800 toneladas por ano. O prazo é de junho de 2020, com investimentos de R$ 531 milhões.
Há ainda o projeto de mina associada em Santa Quitéria, no Ceará, em que uma parceria com o Grupo Galvani, da área de fertilizantes, vai fazer com que se extraia da mina urânio para a INB e fosfato para a parceira. Essa mina traria mais 1.500 toneladas por ano para a produção da INB, eliminando qualquer problema de oferta ou necessidade de importação e também está em processo de licenciamento.
*O repórter viajou a convite da INB