A Eletronuclear anunciou a assinatura de um memorando de entendimentos com a China National Nuclear Corporation que estabelece as bases para uma eventual participação da companhia chinesa na conclusão das obras de Angra 3. Em nota publicada nesta terça-feira, 27 de dezembro, a estatal informou que serão criados grupos de trabalho para avaliar “os diversos aspectos do reinício da construção da unidade.”
Além da estatal chinesa, a Eletronuclear tem mantido contatos com a francesa EDF, que deve enviar representantes para uma visita às obras da usina em janeiro; com a Korea Electric Power Corporation, da Coreia do Sul, que visita o Brasil em fevereiro; e com a Rosatom, da Rússia, que já demonstrou interesse em participar da construção de novas centrais nucleares no país. A intenção do governo em agregar um novo sócio ao empreendimento de Angra 3 foi anunciada no ultimo dia 14 pelo secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, após a reunião do Conselho Nacional de Política Energética.
Na ocasião, Pedrosa disse que a entrada de um sócio está sendo considerada em estudo realizado por consultores contratados pela Eletrobras para avaliar as obras da usina. O trabalho está em andamento e contempla a avaliação dos investimentos já realizados na construção do empreendimento, o cálculo dos custos futuros de conclusão, além de alternativas para a finalização do projeto.
A intenção, de acordo com o secretário, é definir modelos empresariais para a retomada da usina, como a possibilidade, por exemplo, de se fazer um leilão para identificar quem conclui a obra pelo menor custo e com menor participação na tarifa. Afetadas pelo andamento da operação Lava Jato, as obras da usina estão paralisadas desde o fim de 2015, quando houve a desistência de empresas envolvidas na construção.
O encontro da direção da Eletronuclear com os chineses é um indicativo de que esse pode ser mesmo o caminho escolhido pelo governo brasileiro para concluir Angra 3. O documento de intenções foi assinado com a CNNC na semana passada, durante visita àquele país de uma comitiva da estatal. “Existe um claro interesse dos chineses em investir no Brasil, o que pode render parcerias proveitosas para ambos os países, não apenas em projetos conjuntos, mas também na troca de experiências e em treinamento, por exemplo”, afirmou o presidente da Eletronuclear, Bruno Barreto, na nota divulgada pela empresa.
Barreto lembrou que a decisão será do CNPE, que deve se reunir no início do ano que vem para tratar da retomada das obras de Angra. Com a autorização do conselho, a Eletronuclear pretende fechar o contrato com o parceiro internacional escolhido para concluir a usina até meados de 2017, para que a construção recomece até meados de 2018. Como há restrições na Constituição para a exploração de instalações nucleares pela iniciativa privada no Brasil, a operação da usina continuaria, em principio, com a Eletrobras.
Para o executivo, a aproximação com o setor nuclear chinês tem caráter estratégico, já que a China tem feito investimentos pesados em energia nuclear. O país tem 35 usinas nucleares em operação, 20 em construção e 41 projetos incluídos no planejamento. A CNNC é responsável por 12 usinas em funcionamento, com 9,7 GW de potência instalada, e por 11 unidades em construção, com 11,44 GW. Outra empresa chinesa, a State Nuclear Power Technology Company, tem quatro centrais já instaladas, com 4,4 GW, e seis projetos em fase de instalação, com 7,5 GW. Os empreendimentos de fonte nuclear, destaca Barreto, têm sido implantados pelos chineses sem atraso.