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Apesar das lacunas que ainda precisam ser preenchidas para tornar viáveis projetos de armazenamento de energia elétrica no Brasil, empresas do segmento de distribuição estão atentas ao que pode representar uma guinada no modelo de negócios. “As distribuidoras estão muito interessadas nessas tecnologias porque elas representam um possível quebra de paradigma para o setor”, explica o consultor em energia e regulação da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, Fábio Hage.
A chamada estratégica de pesquisa e desenvolvimento 21, lançada no ano passado pela Agência Nacional de Energia Elétrica, é um termômetro do interesse das companhias elétricas pelo tema. A iniciativa que trata de “Arranjos Técnicos e Comerciais para a Inserção de Sistemas de Armazenamento de Energia no Setor Elétrico Brasileiro” recebeu propostas de 19 empresas, entre geradoras e distribuidoras, para a execução de 29 projetos orçados em mais de R$ 550 milhões. As propostas estão em avaliação pela Aneel, e o resultado da chamada pública deve ser anunciado em abril.
Para o consultor da Abradee, as tecnologias de comunicação e smart grid, a microgeração renovável e distribuída, o armazenamento de energia e a eficiência energética serão os eixos de mudança do atual padrão de funcionamento do setor. Hage destaca que uma característica do setor elétrico é se manter constante em termos tecnológicos, com grau de evolução em seu negócio principal (core business) muito estável comparado a atividades como telecomunicações, por exemplo.
Ele demonstra, no entanto, otimismo em relação à capacidade de adaptação das empresas elétricas às mudanças de padrão tecnológico. “A gente percebe que o setor elétrico não vai acabar por conta disso. As empresas vão se tornar – as distribuidoras principalmente – integradoras de soluções em energia, porque nos centros urbanos a densidade energética é muito grande e você não conseguiria ter geração independente desligada da rede com um sistema de armazenamento.” As perspectivas, para o consultor são de que outros serviços além do fio passem a integrar o rol de novas atividades do setor.
Há, porém, consenso entre especialistas sobre os desafios do ponto de vista técnico, comerciais e regulatórios a serem vencidos. Será necessário definir, por exemplo, normas sobre a propriedade de ativos de armazenamento e criar, possivelmente, a figura do armazenador. “Quando a gente pensa nos armazenamento como ativo da distribuidora, a gente não tem no panorama regulatório algo bem definido. Então, se elas optarem por essa solução, em vez de expandir tradicionalmente transformadores, fio, não tem uma regulação que abrace essa possibilidade. Mas a gente sabe que essa tecnologia concorre com isso. As distribuidoras principalmente, em termos de melhor qualidade, poderiam lançar mão de ativos de armazenamento de energia em substituição, por exemplo, à expansão de transformadores em subestações”, explica Hage.
O diretor da Abradee Marco Delgado também avalia que as distribuidoras podem oferecer serviços adicionais além da prestação de serviço publico de energia elétrica. Delgado destaca o papel das redes inteligentes nessa nova configuração para a melhoria da qualidade do serviço, assim como o potencial de expansão da geração distribuída. “Se você pensa em massificar (o uso de fontes alternativas), não é com o atual padrão tecnológico. Aí você tem a possibilidade de garantir um tipo de expansão sustentável para essas fontes também, e começa a surgir a oportunidade de complemento de novos serviços”, afirma.
Ele lembra que a questão do armazenamento de energia tem aspectos de cunho técnico, de inserção e de melhoria da confiabilidade. Alerta, porém, que é preciso ter cuidado para que eventuais regras de incentivo a essas tecnologias não sejam permanentes. “É por isso que a gente falou que, além do modelo tecnológico, o modelo de negócios precisa ser sustentável.” Hage acredita já ser possível trabalhar em grande escala algumas tecnologias de armazenamento com alta maturidade e baixo risco. Entre elas estariam as usinas hidrelétricas reversíveis, que por meio de um sistema de bombeamento permitem o reaproveitamento da água para armazenar energia e potência.
Existe ainda a tecnologia de ar liquefeito, na qual já é possível trabalhar com projetos de 200 MW a um custo razoável, segundo a empresa britânica Highview Power Storage. E o interessante, diz o consultor, é que a indústria de petróleo e gás no Brasil – mais especificamente a Petrobras – teria tecnologia para desenvolver esse sistema, que já é dominado há muitos anos. Outro sistema que tem crescido em escala com a fabrica da Tesla nos Estados Unidos é o de baterias de lítio. Além dessas, há outros tipos de baterias, mas com nível de maturidade ainda baixo.
No Brasil, uma das aplicações da tecnologia seria a substituição da geração a diesel nos sistemas isolados, que traria impactos na redução dos subsídios da Conta de Consumo de Combustíveis. Poderia ser feito também o acoplamento de baterias de lítio-íon aos sistemas eólicos do Nordeste, para transformar a energia intermitente dessas usinas em energia firme, a um custo estimado de R$ 160/MWh sem impostos.
O superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiencia Energétida da Aneel, Ailson de Souza reconhece que há uma série de questões em aberto, como a destinação das baterias após o fim da vida útil; quem pagaria o custo por uma energia de melhor qualidade; e a possibilidade de postergação de investimentos. A discussão sobre armazenamento tem contado com a participação de diferentes atores, em uma parceria que envolve, governo, agência reguladora, empresas e pesquisadores do Brasil e do exterior. Um ano depois de iniciar discussões sobre as tecnologias de armazenamento de energia, especialistas do Brasil e do Reino Unido participaram na última sexta-feria, 17 de março, do seminário de encerramento do projeto Energy Storage in Brazil: tecnology, regulations e public policies, um parceria da Aneel com a embaixada britânica no Brasil.