Há cerca de três meses os pequenos municípios encravados na região da serra de Santana, localizada há 200 quilômetros da capital potiguar, Natal, começou a ver a movimentação dos aerogeradores que estavam parados há pouco mais de dois anos à espera da linha de transmissão de 230 kV que deveria estar pronta em setembro de 2013. Esses aerogeradores pertencem à Força Eólica do Brasil, joint venture entre a espanhola Iberdrola e a brasileira Neoenergia. Passada essa fase, a empresa está focada em terminar o complexo que inclui mais três parques que juntos somarão 234 MW em capacidade instalada até novembro deste ano.
A companhia conseguiu viabilizar os cinco parques de 30 MW no Leilão de Fontes Alternativas de 2010 ao negociar quase a totalidade de garantia física no certame ao preço na casa de R$ 188/MWh. Outro parque, o Calango 6, com 30 MW, e mais dois, os de Santana I e II, que somam 54 MW de capacidade instalada, foram negociados em leilões A-3 de 2014 e as obras estão na fase de fundação, devendo ficar prontas ao final deste ano. Todos essas usinas possuem máquinas da Gamesa de 2 MW e rotores de 85 e 114 MW para os empreendimentos em construção.
A diretora da FEB, Laura Porto, relata que nesses três meses de operação recém completados as usinas apresentaram um fator de capacidade da ordem de 46%. Tanto que não raramente a usina opera em sua capacidade nominal. A região, conta a executiva, possui uma topografia altamente favorável à fonte.
Nesse período sem operar, a empresa manteve assegurado seu direito a receber a receita pelos PPAs negociados no leilão de 2010 mesmo com o atraso da Chesf em concluir a obra de transmissão na região, que inclui uma linha de 230 kV e uma subestação, a Lagoa Nova 2, localizada no município de mesmo nome no semiárido potiguar, onde o complexo se conecta à Rede Básica.
A executiva relata que essas dificuldades da estatal em concluir a obra vêm na esteira de uma nova fase de percepção dos donos das terras que vem exigindo valores mais elevados para permitir a instalação desses ativos. E ainda é vista uma mudança na prática de pagamento de uma indenização pela exigência de royalties como acontece com quem tem em suas terras o aerogerador instalado.
Essa situação, avaliou, é o resultado de uma desorganização e falta de limites georreferenciados das terras, que em alguns casos tem até dois donos. Contudo, ela minimizou esse fato ao lembrar que essas questões são enfrentadas em outros mercados como no México e até mesmo no início da eólica na Espanha. “Aqui as dificuldades são enormes por conta das distâncias que temos que trabalhar, e é tão importante quanto o desafio ambiental para a viabilidade de projetos” disse.
A empresa possui atualmente em seu portfólio 16 parques. Dez estão em operação no RN e na Bahia, no município de Caetité. Em 2017 esse volume aumentará para 16 empreendimentos com a conclusão de mais seis projetos que estão em construção, sendo que além dos três no Rio Grande do Norte há mais três na Paraíba, em uma região não muito distante do Complexo de Calango, mas estes negociados no leilão A-5 de 2014, cujas obras deverão ser iniciadas no ano que vem.
Para compensar esse atraso, lembrou Laura, a empresa teve que renegociar prazos de seguros, garantia e manutenção de equipamentos que tiveram que ficar parados por dois anos em função da falta de conexão. A ausência de infraestrutura na região é um ponto destacado pela executiva, que está sendo revertida pelo avanço da geração eólica. “No Nordeste não havia projetos de escoamento dessa energia o que dificultava a chegada de indústrias e o desenvolvimento do interior dessa região, um cenário que vem sendo alterado com o tempo e a chegada desses projetos”, comentou.
Os planos futuros da FEB ainda passam pela implantação de um centro operacional a ser montado no Rio de Janeiro, onde está localizada a sede da companhia. Além, é claro, da expansão de sua capacidade instalada já que a empresa conta com um pipeline de projetos que somam 1,8 GW em capacidade instalada. Atualmente, a Iberdrola possui um centro de monitoramento na cidade de Toledo, na Espanha, onde consegue visualizar as necessidades de todos os cerca de 14,5 GW em capacidade instalada mundialmente.
Essa expansão deverá ser vista prioritariamente para atender ao mercado regulado motivado pela já tradicional cobertura de longo prazo dos contratos fechados com as distribuidoras. Até porque, ainda não há mecanismos que permitam que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social financie os projetos tendo como lastro os contratos de energia negociados no mercado livre, de mais curto prazo.
“Nossa preferência é por projetos greenfield. Temos que trabalhar de quatro a cinco anos antes dos leilões, há medições de no mínimo três anos e é importante destacar que queremos megawatts rentáveis e com conexão, não queremos correr riscos e ficar sem receita, conforme está na regra do setor. Hoje, ou você constrói ou aguarda a transmissão”, afirmou ela. Laura lembra que a empresa já possui um projeto destinado ao mercado livre, mas que a preferência é pelo ACR justamente pela falta de financiamento do ACL. Mas não descarta esse segmento de negócios, ainda mais porque há discussões em curso acerca da viabilidade de o banco de fomento federal aceitar novas regras para oferecer recursos ao setor.
*O repórter viajou a convite da Iberdrola.