O Ministério de Minas e Energia já considera uma solução combinada para os ativos da espanhola Abengoa, que enfrenta um processo de recuperação judicial. Segundo Moacir Carlos Bertol, secretário-adjunto do MME, o que tem se visto nos bastidores do setor é que nem todas as concessões novas terão sucesso no processo de venda. Ele acredita que uma “solução de mercado” será para os ativos em operação e para parte dos empreendimentos em construção. Outros projetos terão que passar por um novo processo de licitação, cabendo a Agência Nacional de Energia instaurar o procedimento administrativo para retomar essas concessões.
 
“O que temos visto é que não serão todas as concessões novas. São as concessões existentes e algumas das concessões novas e as outras têm que ter um processo regulatório para passar por um novo processo de licitação”, disse Bertol em entrevista à Agência CanalEnergia nesta quarta-feira, 13 de abril, após realização do primeiro leilão de transmissão do ano, na BM&FBovespa, em São Paulo.
 
A chinesa State Grid Brazil Holding é a companhia mais próxima das negociações com a Abengoa. Segundo o diretor da Aneel, José Jurhosa, estava previsto uma reunião para esta quarta-feira, 13 de abril, em que a Abengoa apresentaria novas informações ao ministério. No entanto, a reunião foi adiada para o início de maio. “Estivemos em uma conversa com a Abengoa há uns 20 dias. Eles estiveram juntamente com a State Grid da China”, relevou o diretor.
 
Segundo Jurhosa, a Aneel espera uma solução urgente para o caso, ainda no primeiro semestre do ano, uma vez que as obras da Abengoa estão paralisadas desde o fim de 2015. Sobre a linha que vai escoar parte da energia produzida por Belo Monte para o Nordeste, o diretor disse que a Aneel já estuda uma alternativa técnica para minimizar os efeitos negativos do atraso do projeto no Sistema Interligado Nacional. “As linhas são extremamente importantes e elas deveriam já estar em um estado avançado de obra”, disse Jurhosa. “Esperamos uma solução de mercado. Se não for uma solução de mercado, a gente vai ter que dar uma solução regulatória”, completou.
 
O vice-presidente de Manutenção e Operação da State Grid Brazil Holding, Ramon Haddad, disse que a aquisição dos ativos da Abengoa ainda está sob análise. “Nós, de fato, estamos avaliando, mas é algo que está sob análise…Tem muita coisa acontecendo”, disse em entrevista na BM&FBovespa. A empresa arrematou dois lotes do leilão de transmissão realizado nesta quarta-feira.
 
Haddad disse que ainda não se discutiu valores, nem se o negócio envolverá todos os ativos. “Todos os formatos estão sendo avaliados. Como vocês sabem, existem várias concessões que estão em construção e outras que estão em operação”, declarou. Ele justificou a aquisição como uma operação interessante para a State Grid, pois tem sinergia em uma área em que a companhia já atua no Brasil. “Esse tipo de definição… o quanto antes melhor. Melhor para nós, melhor para eles, e melhor para o setor”, ponderou. 

Sobre a continuidade dos investimentos no Brasil, Haddad disse que a State Grid continua acreditando no país. “No longo prazo a gente acha que o Brasil é perfeitamente viável, acreditamos na economia, nos investimentos que estão sendo feitos e vamos continuar participando [dos leilões]”. Além de geração e transmissão, o executivo sinalizou que também pretende investir em distribuição. “Estamos de olho em todos os negócios disponíveis na área de energia elétrica”, disse sem sinalizar interesse em algum ativo em específico.