O principal fator que pode prejudicar a qualidade de crédito das empresas de distribuição de energia elétrica no Brasil é justamente a retração econômica enfrentada pelo país, disse a Standard & Poor’s Ratings Services em relatório divulgado no final de março. Até recentemente, a escassez de chuva era o principal desafio das elétricas brasileiras, lembrou a agência.
 
"Nossa principal preocupação é que a recessão prolongada no país poderá continuar afetando a liquidez das distribuidoras de eletricidade em 2016 – em decorrência de níveis de inadimplência mais altos entre consumidores finais, queda na demanda de energia e mercados de crédito mais restritos – apesar de nossas expectativas de melhora nos fluxos de caixa. De uma perspectiva de rating, a avaliação do Brasil limita aqueles das distribuidoras. Assim, um novo rebaixamento do rating soberano resultará em ação similar para essas empresas, como observado nas ações negativas em setembro de 2015 e fevereiro de 2016", escreveu a S&P.
 
Na avaliação da agência, a liquidez das distribuidoras foi prejudicada pela recente desaceleração econômica no Brasil e pelas condições de seca nos últimos anos, apesar das iniciativas do governo e regulatórias para fortalecer os perfis financeiros das empresas mediante o mecanismo de bandeiras tarifarias e o reajuste tarifário extraordinário médio de 23,4% em 2015. A depreciação de 50% do real no ano passado elevou consideravelmente as partes dos contratos de energia denominadas em dólar, o que, combinado à queda no consumo de eletricidade, resultou em um acúmulo de custos de energia a serem recuperados por meio dos reajustes tarifários aos consumidores finais.
 
Nesse contexto, as empresas tiveram de cobrir suas maiores necessidades de capital de giro, o que enfraqueceu a geração de fluxo de caixa, utilizando sua posição de caixa e tomando empréstimos, alguns dos quais com vencimento de curto prazo. O risco de refinanciamento, por sua vez, aumenta à medida que o setor se torna menos atrativo aos mercados de crédito, especialmente em relação aos grandes bancos brasileiros, que já têm exposição ao segmento.
 
No entendimento da S&P, as distribuidoras estão vulneráveis, uma vez que a fraca economia brasileira reduz o consumo de eletricidade, aumenta o excedente de energia, e potencialmente eleva as perdas de eletricidade e a inadimplência pelos consumidores finais. "As iniciativas do governo em 2015 para recuperar a rentabilidade do setor, incluindo os reajustes tarifários e o mecanismo de bandeiras tarifárias, não foram suficientes, tendo levado a um enfraquecimento da liquidez das empresas naquele ano." Além disso, a forte depreciação do real em 2015 elevou os custos de energia das distribuidoras. A agência de classificação de risco espera uma recuperação gradual dos custos de energia denominados em dólar em 2016 e 2017.