A sobrecontratação comercial de energia por parte das distribuidoras deverá persistir até 2022. A avaliação é da consultoria PSR e que foi divulgada na edição de março do Energy Report. Para chegar a esse cálculo são considerados os dados de garantia física oficiais do governo, a perspectiva atual de crescimento anual do PIB abaixo de 2% até 2020, o aumento do volume de energia de reserva que entrará no sistema para 4,1 GW médios e que deverá passar a 5,4 GW médios quando Angra III entrar em operação. Além disso, compõe o cálculo o aumento do limite de 103% para 105% de sobrecontratação que ocorreu em 2013 e elevou a demanda requerida para 2018. Com esse cenário, a PSR estima que o pico de sobras de energia ocorrerá em 2019 com 18,3 GW médios.

Em 2011 a previsão de crescimento do PIB de acordo com as projeções do boletim Focus do Banco Central apontavam para um crescimento até 2016 na casa de 4,5%. Contudo, relatou a PSR na edição de março do Energy Report, o realizado pela economia brasileira ficou muito abaixo desse patamar, sendo o crescimento mais elevado em 3,9%, justamente no ano de 2011, chegando a 2015 em uma retração de quase 4%.
Como consequência, a previsão inicial da própria PSR que era de uma demanda em 75,1 GW médios este ano ante uma contratação de 77,9 GW médios, antes de 2011, recuou para 63,9 GW médios, um volume um pouco mais elevado do que o realizado em 2013. Com isso a folga ficou em 11,2 GW médios, segundo dados de garantia física oficiais do governo, sem considerar os fatores de fricção calculados pela consultoria. Em 2011 a projeção era de chegar a 2016 com essa folga bem mais apertada, em pouco menos de 2 GW médios.
Segundo a consultoria, atualmente a sobreoferta é de 12,7 GW médios, ou 19,6% da demanda projetada para o ano. Esse volume é o resultado da sobra estimada em 2011 para os dias de hoje que é de 1,9 GW médio, somado à frustração de demanda de 11,2 GW médios, menos os 4 GW médios de atrasos ou capacidades que não entraram em operação somados à contratação de nova capacidade em 3,6 GW nesse período.
Contudo, na visão da PSR o montante real do excedente é bem diferente do anunciado pelo governo, está em 4,2 GW médios ante o excesso apontado quando se avalia os dados oficiais, conforme divulgado no Workshop PSR/CanalEnergia realizado na semana passada. O que a PSR chama de tempestade perfeita, a conjunção entre a frustração acumulada da demanda devido a problemas econômicos dos últimos anos e a entrada de um grande volume de energia de reserva contratada em anos anteriores, é a responsável pela saída de um cenário de déficit de 2 GW médios para a atual sobra.
Apesar desse cenário, aponta a PSR, o governo ao invés de reduzir a contratação diante desse excedente de oferta, age no sentido contrário com a promoção de novos leilões. Uma hipótese seria a de que a oferta de geração oficial está significativamente superstimada. Com a demanda de 64 GW médios atuais e uma folga de 12 GW médios da estimativa oficial, ante uma previsão de crescimento da economia de 2%, segundo o boletim Focus do Banco Central, a capacidade de regulação desse montante de sobras oficiais seria de 111 meses, ou mais de nove anos. “Na opinião da PSR, seria muito difícil justificar economicamente a contratação de nova capacidade nesta situação, mesmo levando em conta os benefícios extra-setoriais, por exemplo manter a capacidade de produção industrial de diversos segmentos de geração”, avalia a consultoria.
No cálculo com base na folga de geração real, considerando os fatores de fricção, o hedge equivaleria a 39 meses, ou pouco mais de três anos, um período que a consultoria factível para se analisar os tradeoffs entre se ter algum excesso de capacidade e os benefícios futuros de se preservar a capacidade industrial.