A chamada pública que o governo do estado de São Paulo realizou no ano passado para atrair a iniciativa privada para investir em um projeto na zona sul da capital entrou em nova fase com a assinatura de memorando de entendimentos entre as empresas escolhidas. De um total de 21 projetos apresentados foram selecionados dois, que resultaram em parcerias entre a Emae e a Siemens-Gasen e outro entre a estatal paulista com a AES Tietê Energia.
No evento realizado nesta quinta-feira, 31 de março, na Secretaria de Energia e Mineração do estado as empresas firmaram acordos com a Emae. O próximo movimento agora é de desenvolver a melhor configuração para o projeto que visa colocar até 1,5 GW de capacidade instalada em uma área de 120 mil metros que pertence à estatal paulista e cujo aporte está estimado em cerca de R$ 6 bilhões ao total.
De acordo com o presidente da Emae, Luiz Carlos Ciocchi, a participação da estatal será minoritária no projeto, mas que a futura estrutura acionária ainda não foi definida. “Temos um piso de participação na sociedade que é confidencial, mas que dependendo das definições que teremos depois da assinatura do memorando poderá chegar a no máximo 49%, como o projeto ainda precisa ser desenvolvido ainda não temos a definição”, comentou ele a jornalistas após a assinatura.
O projeto original apresentado pela Siemens-Gasen prevê a implantação de uma usina com 800 MW de capacidade instalada. Mas, essa configuração ainda demandará estudos que começarão a ser desenvolvidos entre as companhias signatárias até que seja anunciada a configuração final do projeto que poderá ser mantido em duas térmicas ou concentrar todo o projeto em uma só.
Dentre os pontos que já são conhecidos está o fato de que o projeto deverá ser cadastrado em leilões de energia nova da Agência Nacional de Energia Elétrica e obrigatoriamente no A-5. Segundo as estimativas dos executivos presentes, a participação deverá ocorrer no certame previsto para 2017, pelo menos.
Aparentemente, o fato de que as distribuidoras passam por um momento de sobrecontratação de energia não tirou o ânimo dos investidores. O diretor de energia da Siemens, Ricardo Lamenza comentou que o investimento é de longo prazo e que a economia uma hora se recuperará o que leva ao aumento da demanda. “A demanda vai voltar em algum momento, é sazonal e os ciclos se repetem, esse projeto é para pelo menos daqui a cinco anos e como temos visto a entrada de fontes intermitentes o país vai precisar de energia de base e a térmica é a mais adequada”, disse o executivo.
Apesar do otimismo, um problema que ainda deverá ser solucionado, mas que já está em estudo, é a questão do fornecimento de gás natural para o empreendimento. Caso seja instalada toda a potência prevista nesse projeto serão necessários 6 milhões de metros cúbicos do combustível ao dia. No ano passado, a estimativa era de que a Comgás, que possui um city gate no local, teria 1,5 milhão de metros cúbicos de gás disponíveis.
De acordo com o executivo da Emae, a distribuidora de gás que atua na grande São Paulo, estuda as alternativas de fornecimento, contudo não detalhou quais caminhos possíveis. Citou apenas que essa avaliação seria para atender a todo o complexo que será construído. “Hoje não existe essa capacidade, mas esse potencial de geração pode ser uma âncora para atrair mais disponibilidade de gás para outros usos como mais consumidores residenciais e industriais, alem de outras aplicações para o insumo”, comentou ele.
Entre as alternativas que podem ser implantadas está a do GNL, seja por meio da construção de um novo terminal no estuário de Santos, como prevê o governo do Estado desde o lançamento da chamada pública por meio da chamada Rota 4, ou por meio da capacidade ociosa que existe nos terminais de regaseificação da Petrobras. Na opinião dos executivos, a regulamentação da lei que permite o swap de gás, publicada na segunda quinzena de março, também ajuda a encontrar uma saída para assegurar o fornecimento do insumo de acordo com as regras da Aneel para que o projeto possa entrar no A-5.
Nesse sentido, a Gasen também trabalha no desenvolvimento das formas de se obter esse combustível já que possui atuação em outras iniciativas de geração de energia. “A expansão da capacidade térmica tem passado nos últimos anos pelo GNL”, acrescentou Ciocchi.
Pelo lado técnico o projeto da Siemens deverá se parecer muito com o que a empresa participou na Califórnia onde há uma central de geração próxima à cidade de Los Angeles. A central será por ciclo combinado e a turbina que a empresa estuda implantar deverá ser importada, mas ainda não há a definição em decorrência da necessidade de se desenvolver com mais clareza a configuração do complexo térmico na zona sul paulistana.
Já em termos de financiamentos, os executivos apontaram que deverão buscar todas as alternativas de funding que estão disponíveis no mercado de acordo com o que será definido nos próximos passos do projeto.