Os Institutos Lactec e a Usina Elétrica a Gás de Araucária (UEGA) acabam de iniciar um projeto de pesquisa e desenvolvimento em busca de uma tecnologia para biofixar CO2 e NOx por meio do uso de microalgas em fotobiorreatores. Com a tecnologia desenvolvida e instalada será possível diminuir os índices de emissões atmosféricas, gerando uma biomassa que pode ser útil ao mercado, seja para produção de óleo, rações animais ou outros insumos.
 
O projeto multidisciplinar envolve as áreas de pesquisa de meio ambiente, eletricidade, materiais e mecânica dos Institutos Lactec e é um dos quatro contratos firmados com a UEGA que buscam melhorar a eficiência energética, a segurança operacional e a sustentabilidade da usina até 2021. No total, serão investidos na pesquisa R$ 6,5 milhões, recursos estes que serão aportados pela UEGA por meio do programa de P&D da Agência Nacional de Energia Elétrica.
 
Dividida em quatro etapas, a pesquisa estudará e selecionará as melhores espécies de microalgas para a remoção do CO2 e NOx; avaliará em laboratório a eficiência dessa remoção por microalgas; selecionará o melhor fotobiorreator para operação em usinas termelétricas; e construirá e operacionalizará um modelo piloto de fotobiorreator para remoção do CO2 e NOx.
 
“O projeto ainda está em fase inicial, estamos concluindo a infraestrutura laboratorial para poder iniciar os testes”, informa o gerente do Departamento de Mecânica dos Institutos Lactec, André Ricardo Capra. Segundo ele, os primeiros resultados do P&D devem sair em 6 a 8 meses a partir das conclusões dos estudos com diversas microalgas nacionais e internacionais. “Em palavras menos técnicas, o que precisamos avaliar é a capacidade que as microalgas terão de se alimentar dos gases CO2 e NOx", explica. Depois desse período, será validado o conceito da instalação de biofixação em laboratório e uma unidade piloto será montada na UEGA.
 
“O importante agora é a gente desmistificar esse processo de produção de energia das térmicas e trabalhar com tecnologias mais eficientes e menos impactantes ambientalmente”, afirma o diretor técnico da UEGA, Flávio Chiesa. Para ele, todas as fontes de energia são necessárias e, juntas, garantem o fornecimento ininterrupto de energia elétrica para o país. “Você não pode contar só com hidrologia, porque se falta água, há baixa produção; na hora que chove, o vento para; na hora que não tiver sol, não vai ter geração porque não existem baterias suficientes para armazenar energia”, analisa. Ele enfatiza, “as termelétricas no Brasil vieram para ficar”.
 
A UEGA é a quinta maior usina em capacidade instalada para geração térmica no Brasil, utilizando ciclo combinado a gás natural para a geração de energia. “O ciclo combinado a gás natural é o melhor, menos poluente, diferente das térmicas termonucleares, a carvão, biomassa e óleos combustíveis”, comenta Chiesa.

Segundo ele, em função do acordo mundial firmado por meio do Protocolo de Kyoto, o grande desafio das térmicas é diminuir a sua emissão. E apesar da UEGA já possuir os melhores resultados em termos de equipamentos, processos e resultados, ela quer se manter como benchmarking no mercado de geração térmica no Brasil e no mundo. “Se nós conseguirmos desenvolver uma tecnologia onde seja possível resolver o problema do NOx e do CO2, vamos reduzir esse impacto de emissão atendendo o protocolo, atendendo uma geração com melhor eficiência e com menor impacto ambiental para o conjunto todo”, comenta. “Por isso esse projeto com os Institutos Lactec é um projeto inovador, ele tem um risco alto, é um P&D, mas o importante é você sonhar grande e ir atrás de desafios”.
 
Para o pesquisador dos Institutos Lactec e responsável técnico pelo projeto, Thiago Carvalho de Mello, se os objetivos forem atingidos, a inovação poderá ser replicada em outros locais do país, reduzindo as emissões atmosféricas das usinas termelétricas semelhantes à da UEGA. Chiesa avalia que isso é essencial para o crescimento do Brasil e das companhias. “O Lactec é o nosso braço de engenharia e queremos deter a tecnologia dentro do Lactec para que ele possa pulverizar isso, uma vez que o conhecimento é construído continuamente por meio das pessoas, de processos e projetos”, conclui.