O mexilhão dourado, um molusco de origem asiática e que chegou ao Brasil na década de 1990, começa a ameaçar a Amazônia. Essa foi uma das conclusões de pesquisadores da Cemig e do Centro de Bioengenharia de Espécies Invasoras (CBEI). Esse grupo encontrou a presença da espécie no reservatório da UHE Sobradinho e agora ele avançou para o canal das obras de transposição do rio São Francisco. Em outra frente, o mexilhão já se estabeleceu até o Mato Grosso. Como consequência poderá ser verificado um aumento de custos com a manutenção de usinas hidrelétricas nessas regiões e um desequilíbrio e perda de biodiversidade.

De acordo com a analista de meio ambiente da Cemig, Marcela David de Carvalho, esse avanço na verdade é o resultado da ação do homem já que o molusco segue o curso de água onde está e só avança rio acima quando deslocado mecanicamente, seja nos cascos de embarcações ou por meio da piscicultura. Essas teorias podem explicar como o molusco passou da bacia do rio Prata, por onde chegou na região, subiu pelos rios Uruguai e Paraná até chegar ao Grande, em sentido contrário ao deslocamento natural das águas.
“As nossas modelagens indicam que se não houver uma barreira sanitária que impeça a sua proliferação, chegará à Amazônia”, explicou a pesquisadora. “Para o setor de energia elétrica o molusco não é mais uma grande ameaça porque as empresas já sabem como combater, mas mesmo assim, ele representa o aumento de custos com manutenção e pode impactar na eficiência das usinas”, acrescentou.
A pesquisadora da Cemig disse que o mexilhão dourado tem como característica principal se acoplar a estruturas firmes e se reproduz de forma acelerada nesses locais, formando rapidamente grandes colônias. Por isso e uma ameaça às usinas no caminho de sua migração.
A espécie acaba afetando basicamente três áreas, o trocador de calor, a tomada de água e a saída da turbina. Em todas essas estruturas há um impacto com a perda de eficiência dos equipamentos. No trocador de calor, há a necessidade de limpeza mais constante; na tomada de água pode se fixar na grade dessa entrada e prejudicar o fluxo que gira o equipamento; já na saída da UG requer a paralisação da operação e a drenagem da turbina para a retirada manual da colônia ali instalada.
Conforme a pesquisadora comentou, o setor já está atento às consequências da presença do mexilhão e procura se prevenir. Ela indicou que já se utiliza tintas especiais para proteger estruturas onde há o potencial da espécie montar uma colônia. E ainda, o Ibama estuda autorizar o uso de soluções químicas no combate à praga, mas esta solução estará restrita a instalações industriais.
Quanto a presença do molusco nos reservatórios a pesquisadora é mais pessimista e diz que não se pode usar essas saídas. Para ela, apenas a educação ambiental e a barreira sanitária poderiam no máximo desacelerar o avanço pelo país. Isso porque aqui estão reunidas as condições adequadas para seu desenvolvimento, que são a temperatura da água, a não presença de predadores naturais e a alta concentração de nutrientes nos rios brasileiros.