Apenas uma nova licitação poderia atrair interessados para os ativos em construção da Abengoa Concessões no Brasil. Nas condições econômicas que os empreendimentos se encontram, é pouco provável que algum agente se arrisque a assumir os projetos. A avaliação é do CFO e diretor de Relações com Investidores da Alupar, José Luiz de Godoy, que conversou nesta sexta-feira, 11 de março, com analistas do mercado financeiro.
Em sua avaliação, a Abengoa, que está em processo de recuperação judicial na Espanha, foi "extremamente agressiva" nos leilões de transmissão, tonando a receita dos projetos incompatível com a necessidade de investimento. O executivo disse que o retorno sobre esses investimentos estaria com valor negativo. "Analisando do ponto de vista econômico e financeiro, não é viável fazer os projetos que estão na mesa. A forma mais adequada é oferecer isso para o mercado através de um leilão. Daí o mercado vai se interessar… não só nós, como as empresas que trabalham nesse mercado", respondeu o diretor à Agência CanalEnergia.
Nesta semana, a Abengoa espanhola informou que fechou uma primeira versão de um acordo junto a credores para reduzir a dívida e injetar novo dinheiro na companhia. Pela proposta, os credores emprestariam até 1,8 bilhão de euros à companhia ao longo de um período de 5 anos, o que daria a eles direito a uma participação de 55% na Abengoa reestruturada. Ao mesmo tempo, cerca de 70% das dívidas existentes seriam convertidas em capital, dando a seus credores direito a 35% da companhia. No processo final de reestruturação, os atuais acionistas da Abengoa ficarão com cerca de 5% do capital social, dizia o comunicado. No dia 28 de março termina o prazo de proteção judicial na Espanha e caso a empresa não chegue a um acordo, os credores poderão decretar a falência da companhia.
No Brasil, as empresas Abengoa Concessões Brasil Holding S/A, Abengoa Construção Brasil Ltda. e Abengoa Greenfield Brasil Holding S/A apresentaram no dia 29 de janeiro pedido de recuperação judicial junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Todas as obras no país, incluindo linhas importantes para o escoamento da hidrelétrica de Belo Monte, estão paradas deste dezembro de 2015. A empresa tem novo projetos em fases distintas de construção no Brasil.
Leilões – Ainda na conversa com analistas de mercado, o CFO e diretor de Relações com Investidores da Alupar, José Luiz de Godoy, disse que está analisando as oportunidades que devem ser apresentadas nos leilões neste ano. Ele admitiu que as condições dos leilões de transmissão estão melhores que em outros anos, mas lembra que há um grande desafio de conseguir capital no Brasil, já que o custo do dinheiro está mais alto.
"A gente vai olhar todos os leilões e tendo boas oportunidades a gente vai aproveitar. Estamos estudando alternativas porque tem toda uma necessidade de capital. Estamos trabalhando com várias alternativas para levantar capital e estruturar o nosso fluxo para que a gente consiga aproveitar as oportunidades que com certeza virão no mercado", disse.
A empresa também segue tentando rescindir amigavelmente o contrato de concessão da linha de transmissão em 500 kV Engenheiro Lechuga-Equador-Boa Vista. Licitada há cinco anos, a licença previa foi emitida no final de dezembro, mas foi caçada logo em seguida pela Justiça Federal a pedido do Ministério Público Federal no Amazonas. "É uma questão muito mais política do que técnica porque envolve essa questão indígena. A nossa tendência é caminhar para fazer uma rescisão amigável. Hoje estamos impossibilitados de levar esse processo a frente."