O problema de encontrar um substituto para as concessões de transmissão que a Abengoa arrematou e que agora estão com as obras paradas é maior e mais complexa do que simplesmente arrumar outro empreendedor. No centro da questão está o fato de que a empresa espanhola apresentou deságios muito elevados para aquele momento que o setor passava e por isso as condições atuais dos contratos não atraem os investidores. Para que outros players possam entrar nesses projetos o governo terá que intervir e adotar uma tarifa mais flexível.

Na avaliação do diretor de Projetos e Novos Negócios da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, a conta para esse problema não é simples. A empresa participou de uma primeira rodada de conversas com o Ministério de Minas e Energia para apresentar, segundo ele, um mapa dos projetos eólicos no Nordeste por onde passaria uma linha da Abengoa que deveria ficar pronta em agosto desse ano.
“Fomos colaborar com esses dados e até nos dispomos a fazer parte dessa solução até mesmo por meio de consórcio ou outra forma nesse projeto da Abengoa que era um dos que estavam mais adiantados”, comentou ele em almoço após o 2º Encontro Santander de Energia Eólica. “Em não tendo uma solução no curto prazo deixaríamos esses projetos mais para frente e trabalharíamos em outros onde a questão da conexão é mais simples”, acrescentou ele em relação aos cerca de 1,2 GW em projetos na Chapada do Araripe e que se utilizariam dessa linha da Abengoa.
O prazo para que se declare a caducidade da concessão é extenso diante da necessidade desses projetos. Por isso, acredita em uma intervenção federal para o caso até porque essas linhas impactam duas grandes frentes da expansão da geração já contratadas que é a parcela de energia da UHE Belo Monte que seria escoada para o Nordeste, bem como o coração da expansão da fonte eólica nessa mesma região, a que mais vem contratando nos últimos anos.
Quanto a repassar esses projetos para outro empreendedor nas condições atuais dos contratos firmados pela empresa espanhola, Araripe explicou que o difícil é encontrar investidores dispostos a aceitas as condições da forma que está. Para alterar essas condições, somente com uma nova licitação.
Segundo sua avaliação o grande problema é que no portfólio de transmissão da Abengoa não existe nenhuma linha com retorno adequado, e segundo suas palavras, a RAP apresentada nos leilões que saiu vencedora “não faz sentido nenhum”. Essa opinião toma como base o fato de que as espanholas que vieram para o Brasil são em sua grande maioria empresas de engenharia e que a maior parte do retorno viria justamente da atividade de epecista e não da transmissão.
“O governo está ciente que precisará ter flexibilidade na tarifa para realmente atrair investidores, porque nenhuma das empresas que avaliaram, nem chinês falou que queria a linha. Teve leilão com deságio de 25% ante uma oferta de deságio que a Chesf ofertou de 5% sendo este o segundo colocado”, afirmou o executivo.
Outro fato importante que corrobora a visão é o fato de que as condições macroeconômicas brasileiras mudaram desde os leilões de 2013 e 2014. Segundo Diogo Berger, Head de Project Finance do Santander, os juros não estavam tão estressados como atualmente. E corroborou Araripe ao lembrar o nível elevado de deságio sobre a RAP estabelecida pela Aneel na oportunidade. “Com o atual contexto, fica mais complicado encontrar interessados naquelas mesmas condições e ainda precisando fechar um contrato de EPC”, apontou.
Araripe relatou que as conversas com o governo acerca de um plano para esses ativos ainda estão no início e que será necessário ver a questão regulatória e jurídica para achar essa solução e aí sim esboçar um plano chamar os players e ver o que fazer.