O processo de transferência da parcela de 40% que a Engie tem na UHE Jirau (RO, 3.750 MW) está próximo de ser iniciada. Com a proximidade da conclusão da obra, o comitê interno que avaliará essa medida deverá iniciar os trabalhos em breve. A perspectiva é de que os trabalhos sejam iniciados ainda este ano, mas a conclusão da operação deverá se dar somente em 2017 a um valor que é estimado atualmente em cerca de R$ 4 bilhões, podendo variar para para mais ou para menos, a depender da avaliação desse grupo e dos acionistas da geradora catarinense.
De acordo com o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Engie Tractebel, Eduardo Sattamini, ainda não há uma data específica, mas com a etapa de construção civil já na fase de acabamento e montagem das turbinas, esse momento não está muito longe de ocorrer. “Quem definirá que é hora de repassar essa parcela é a Engie [controladora da Tractebel]. A ideia é fazer essa negociação sem stress e de forma suave e no momento que fará mais sentido”, afirmou após encontro com analistas e investidores em reunião realizada pela Apimec-SP.
O momento a que se refere é após a mitigação de uma série de riscos, entre eles o de construção, custos e operação da usina. O diretor explicou que é preciso avaliar a performance das unidades geradoras, os custos de manutenção e seu histórico bem como as contas do dia a dia da usina. E que com o atual momento, com 41 unidades em operação e a atual performance já é possível ter uma grande parte dos riscos mitigados. Os que ainda restam estão basicamente concentrados na questão da disputa do excludente de responsabilidade. Com essa redução dos riscos, comentou, os que restam podem ser incluídos em cláusulas contratuais que podem ser levados a ajustes de preço da usina ou à postergação de pagamento.
“Por isso acho que haja a possibilidade de que a gente, em algum momento esse ano, possa trazer o projeto a ser discutido pelo comitê de partes relacionadas”, afirmou. “O excludente não é o impedimento, poderia ser antes porque tinha outros riscos envolvidos, como de construção, histórico de operação, uma série de coisas que juntos para o comprador levaria a pagar pouco por conta da possibilidade grandes desvios de custos”, acrescentou.
A transferência da participação da Engie em Jirau já é tema que vem sendo abordado desde 2010, quando a empresa lançou o comitê interno de partes relacionadas. Segundo Sattamini, a parcela de 40% detida pela empresa, quando ainda era conhecida por GDF-Suez, não precisará passar pelo crivo dos sócios da Energia Sustentável do Brasil (controladora de Jirau) já que não há mudança de controle e não há direito de preferência de compra das ações pelos outros acionistas.
Para que a operação seja efetivada, Sattamini estima que será necessária uma nova captação de recursos no mercado para fazer frente a esse investimento. Até porque, lembrou, essa operação envolverá cerca de R$ 4 bilhões de pagamento à Engie, referente aos cerca de R$ 10 bilhões de capital injetado na usina por todos os acionistas.
Mesmo com essa aquisição, a Tractebel está tranquila quanto ao aumento de sua alavancagem. Atualmente a empresa possui uma relação dívida líquida sobre o Ebitda de 0,4 vezes o que nas contas do executivo abre a possibilidade de a empresa buscar até R$ 9 bilhões de dívida no mercado sem alcançar os covenants financeiros que é de 3,5 vezes essa mesma relação. Outro fato é que sem o controle majoritário da usina do rio Madeira, a empresa não consolida o endividamento em seu balanço o que dá mais fôlego para outras operações no mercado, isso se não agregasse nada de ebitda que é resultado da atividade operacional de uma empresa.