O anúncio do desligamento de 14 usinas termelétricas no próximo mês de abril e como consequência a adoção da bandeira verde feito pelo ministro Eduardo Braga foi visto como uma consequência natural pelos especialistas ouvidos pela Agência CanalEnergia. As indicações já vinham mostrando que a melhora nos níveis era acentuada, e aliadas a uma queda na demanda, trouxe o resultado. O mês de março já vem com a bandeira amarela. Mas a troca de bandeira e o fim do despacho térmico acentuado podem ser apenas mais um alívio passageiro em um setor que vem experimentando fortes emoções nos últimos anos.

De acordo com Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, os submercados Sudeste / Centro-Oeste e Nordeste vem mostrando em 2016 crescimento alto nos níveis dos seus reservatórios, o que tem levado a previsões positivas. "Houve um crescimento de praticamente três vezes mais que em 2015 no SE/CO na mesma época", frisa. Ele acredita que a mudança na bandeira seja confirmada em abril, embora alerte que ela poderá ser revogada caso as previsões hidrológicas não aconteçam. "Se os números chegarem aos que estão projetados no PMO, a decisão deverá ser mantida", diz Sales.

Ricardo Savoia, consultor da Thymos Energia, também considerou que a decisão foi uma consequência, mas frisou que a atuação do Operador Nacional do Sistema Elétrico deverá ser observada até o fim do ano, uma vez que mesmo com a bandeira verde, usinas térmicas podem ser despachadas, ainda que não em uma quantidade tão elevada quanto a atual, de 12 mil MW médios. "Há um despacho térmico na base que é importante para prever a recuperação de carga ", avisa. O governo deve fazer um monitoramento do sistema no período seco para observar a necessidade de se voltar a acionar mais térmicas, em caso de recuperação de demanda.

Savoia ressalta que preferia que a bandeira amarela fosse mantida até o fim de abril, culminando com a entrada do período seco. Para ele, o desligamento vai impactar mais nas tarifas de distribuidoras que passarão por reajustes ao longo do ano. A Cemig, que tem aniversário tarifário em abril, deve pegar quase a integralidade dos custos do despacho térmico. Já a Light, que tem reajuste em novembro, vai sofrer impacto positivo caso a bandeira verde se perpetue para o ano. Mudanças no preço do barril de petróleo Brent também vão trazer impactos nas tarifas.

Mas as fontes ouvidas pela reportagem mostraram preocupação com a queda acentuada na demanda que vem sendo apresentada ao longo dos últimos meses. Sem ela, não seria possível o desligamento das térmicas, mesmo com a volta das chuvas. Esse retrato pode colocar em descompasso a situação das concessionárias de distribuição. "A degradação da demanda no Brasil trouxe um alívio de oferta, com uma mudança rápida de posição", explica Savoia. Essa queda mostra a movimentação extrema feita pelas distribuidoras em dois anos, que pode trazer problemas no médio o e longo prazo. Antes estavam expostas e agora estão sobrecontratadas, com muito mais energia para oferecer que o necessário e permitido. "O impacto financeiro para elas é insustentável", aponta Claudio Sales.