Um estudo sobre o setor eólico elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos apresentado na última terça-feira, 23 de fevereiro, apontou para a necessidade da criação do Instituto Tecnológico de Energia Renovável (Inter), que atuaria como um centro de testes de equipamentos de turbinas para fortalecer a indústria nacional do setor. O investimento necessário para a criação do Inter seria de R$ 405 milhões. O ‘Programa demonstrativo para inovação em cadeia produtiva selecionada – Energia Eólica’ foi feito a pedido dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação, de Minas e Energia e de Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

De acordo com a assessora técnica do CGEE Ceres Cavalcanti, desde 2011, quando a fonte eólica começou a despontar em contratações, o centro já vinha elaborando estudos mais simples sobre o setor eólico. Dessa vez, a proposta era para apresentar uma ação estruturante de ciência, tecnologia e inovação (CTI) que pudesse colaborar como desenvolvimento da fonte. "A proposta de um centro de testes e demonstração era necessária para ajudar o desenvolvimento de tecnologias nacionais e a cadeia produtiva", explica.

Ainda segundo a assessora do CGEE, o estudo também preparou uma visão de futuro para o setor, sob a ótica da CTI, exibindo um olhar diferente de uma visão futura de planejamento de mercado. "Nesse caso, colocamos a necessidade do desenvolvimento de tecnologias mais robustas e eficazes, podendo chegar a um a aerogerador de 5 MW no Brasil", avisa. Houve o desenho de equipamentos de forma atender o mercado atual, mas que pudesse atender portes maiores. Como o mercado ainda no Brasil é onshore e de potência de até 3 MW, essa visão de futuro almeja não a comercialização, mas sim de ter disponível a tecnologia necessária para tanto.

Ela conta que a ideia do centro de testes não é a de concorrer com outros centros de pesquisa já existentes, mas sim de complementaridade e independência, com o instituto se articulando com todas as universidades, podendo ficar em vários locais. O governo demonstrou boa receptividade ao projeto na apresentação feita na última terça-feira. Segundo Cavalcanti, o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Eronildo Braga, quer que o Inter seja uma realidade até o ano que vem. O Inter trabalharia em quatro vertentes de ações: disseminação, capacitação, testes experimentais e pesquisa aplicada.

O investimento de mais de R$ 400 milhões, cotado com um dólar muito menor que o atual, é vultoso, mas não é impossível. O estudo propõe que o instituto seja criado por meio de uma Sociedade de Propósito Específico ou Organização Social, sendo que esta última leva vantagem por ter mais facilidade em receber recursos públicos e privados. "A ideia é ter uma composição mista", revela. Ela também conta que há a possibilidade também ser implantado em etapas, o que escalonaria os recursos. O instituto também poderia receber recursos do programa de Pesquisa & Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica.

A formulação do Inter usou como base em centros que já estão em atividade na Alemanha, na Espanha, Reino Unido e na Dinamarca. Eles foram visitados pela equipe que elaborou o estudo. "Todos estão muito interessados no Brasil e querem fazer parcerias", avisa. Ceres Cavalcanti alerta que a falta de um centro no país dificulta o desenvolvimento de novos projetos e o envolvimento de parceiros nacionais de um componente específico. "Os equipamentos precisam ser testados fora do país para depois de prontos serem certificados. O centro aqui facilita que a indústria nacional participe mais do processo", afirma. Um centro no Brasil também motivaria a indústria local a participar mais dos processos e ao desenvolvimento de projetos nacionais.