A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, está liderando um projeto internacional de pesquisa e desenvolvimento cujo objetivo é simular os efeitos da penetração de fontes de geração de energia intermitentes na matriz elétrica brasileira. Com a expansão de usinas eólicas e solares, há uma preocupação por parte do governo de como essas fontes vão impactar a operação do Sistema Interligado Nacional.
O projeto conta com recursos de P&D da Aneel e tem previsão de ficar pronto em três anos. A expectativa é que R$ 8 milhões sejam investidos na pesquisa, intitulada de “Smart Sen: um modelo de simulação do sistema elétrico nacional com presença de geração de renováveis intermitentes – impactos operacionais, regulatórios e custos. Além da Unicamp, o projeto será desenvolvido em cooperação com a Princeton University (EUA) e com dez empresas do setor elétrico brasileiro, lideradas pela AES.
A proposta é desenvolver um modelo computacional de grande porte para coordenar a operação do sistema interligado nacional de produção e transmissão de energia. Trata-se de uma ferramenta que permitirá ao Operador Nacional do Sistema coordenar e planejar ações para evitar sobrecarga no sistema elétrico. A pesquisa é sediada no Departamento de Recursos Hídricos da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp.
Segundo o coordenador do projeto, o professor da FEC Paulo Sérgio Franco Barbosa, trata-se de uma ferramenta de suporte à decisão e que, com ela, o operador vai se valer de um conjunto de informações (desde as características técnicas de todas as usinas até os consumos de todas indústrias e demais consumidores) para fazer o seu trabalho, alimentando uma base de dados. “Vamos supor que o operador identifique que nas próximas três horas a produção de energia eólica do Nordeste, onde se concentram os grandes parques eólicos do país, vai ter um declínio de 20%. Com essa ferramenta, ele irá identificar que outras usinas do Brasil terão que ser acionadas, incluindo térmicas, de tal maneira a suprir esse deficit da produção eólica”, disse Barbosa.
Com a previsão de consumo das próximas horas, da velocidade dos ventos e da produção solar, e com a produção hidráulica de todas as outras fontes de usinas, o operador poderá planejar melhor a operação interligada, evitando blecautes e propiciando que a energia seja fornecida nos parâmetros técnicos adequados (voltagem, frequência e outros). Esse é um modelo de simulação com uma escala curta de intervalo de tempo, na faixa de cinco minutos. Não existia no país e interessa muito a outros países, que agora estão avaliando o assunto.
A proposta foi muito bem recebida pelo Ministério de Minas e Energia e pela Aneel. O MME se comprometeu a colocar seus técnicos à disposição do projeto, para acompanhar o seu desenvolvimento. O ONS também manifestou interesse em colocar uma engenheira à disposição para fornecer dados e interagir com o grupo da Unicamp. “Vamos representar o que o ONS faz hoje, todas as usinas, todos os dados reais e operacionais. Temos um projeto piloto mas, ao mesmo tempo, muito fidedigno às reais condições de operação do sistema interligado nacional. Após concluído, migrar a ferramenta para o ONS, vai ser um passo simples”, garantiu Barbosa.