A ocorrência do El Niño mais intenso desde a década de 1950 este ano trouxe um cenário de extremos ao país: um alto volume de afluências no Sul enquanto no Nordeste é registrada a pior seca da história de 85 anos de monitoramento. Com isso, a perspectiva, para pelo menos até o final do primeiro semestre de 2016, é de manutenção da exportação de energia da UHE Itaipu (Brasil/Paraguai, 14.000 MW) e do sul do país para atender a parte da demanda dos estados do submercado Nordeste.
Um dado que mostra o descompasso climático criado pelo fenômeno que ocorre no oceano Pacífico é o volume de afluência na usina binacional. De acordo com o superintendente de Operações, Celso Torino, normalmente, a média que chega à usina é de 12 mil metros cúbicos por segundo. Contudo, o volume que era registrado próximo ao meio dia da terça-feira, 15 de dezembro, estava em 17,3 mil metros cúbicos por segundo ou 44% acima desse indicador. E isso, disse ele, deve-se em grande parte a apenas três rios da região sul, o Tibagi, Piquiri e Ivaí, que possuem participação média de apenas 20% do reservatório da usina.
“A maior parte do volume que chega vem da região sudeste com 80% da formação do reservatório, contudo, com a seca do biênio 2014/2015 esses rios do sul que não são regularizados por outras usinas contribuíram com 35% enquanto o sudeste, que vem naquela cascata de usinas, reduziu sua participação”, explicou Torino.
Esse aumento da afluência, continuou o executivo, ocorreu apenas nos dois últimos meses do ano que elevou o reservatório da usina à cota a 220 diante do máximo de 230 metros. Inclusive, a usina estava vertendo água para gerenciar o nível de seu reservatório. Ao mesmo tempo em que a geração da central estava em 12.215 MW com 18 máquinas das 20 disponíveis.
Esse cenário, lembrou Torino, levou até mesmo à declaração do diretor geral do ONS, Hermes Chipp, a dizer que é justamente o sul e Itaipu que deverão assegurar o abastecimento de energia do país em 2016, repetindo o desempenho da UHE no ultimo biênio, marcado pela grave restrição hidráulica que afetou o Brasil. A usina no rio Paraná deverá ser fundamental para amenizar o estresse hídrico na bacia do São Francisco.
Esse auxílio, explicou Torino, pode se dar de três maneiras diferentes de escoar a energia. Uma é por meio da interligação Norte-Sul que segue até Serra da Mesa, em Goiás, onde há uma derivação até Salvador, cortando todo o interior da Bahia. A segunda é a continuação na interligação até Imperatriz no Maranhão, de onde a energia pode chegar às capitais do litoral Norte da região como Fortaleza e São Luís, nessa via ainda há a confluência com a energia da região Norte que também é exportada para o Nordeste. A terceira via é pelo litoral do Rio de Janeiro e Espírito Santo e que entra pelo sul da Bahia.
Segundo o superintendente de operações de Itaipu, esse ano a usina deverá alcançar a marca de geração entre 89 e 90 milhões de MWh, o que é cerca de 1,5% acima do registrado em 2014. Apesar da melhora ainda está abaixo do recorde de pouco mais de 98 milhões de MWh obtida em 2013. Contudo, para 2016, com essa perspectiva de manutenção do El Niño, a geração da central poderá ser melhor do que este ano e consequentemente, o excedente poderá ser exportado com tranquilidade.
O otimismo de Torino é demonstrado com base em um balanço do desempenho de Itaipu por meio de três indicadores de eficiência obtidos pela UHE neste ano. E essa performance deverá ser vista novamente em 2016. A disponibilidade da usina que está acima de 96% do tempo, a chamada indisponibilidade forçada, que é causada por alguma falha técnica ou humana que provoca a saída repentina da central, que esse ano ficou em um índice menor que 0,1%.
E ainda a FCO que é o indicador de aproveitamento da água que passa pela usina, ou, em outras palavras, representa quanto de água deixou de ser aproveitada na UHE. Esse índice disse o executivo ficou acima de 97% de tudo o que poderia ser convertido em termos de metros cúbicos por segundo para MWh. “A soma desses três indicadores mostra que o desempenho foi fantástico e que estamos preparados para receber água e gerar. Não temos razão para não achar que será diferente em 2016”, concluiu Torino.