A previsão de crescimento da carga em 1% para 2016, que consta do planejamento anual de operação energética para o ciclo de 2016 a 2020 é vista como otimista perante a realidade que o país vive. E grande parte dessa avaliação deve-se à comparação entre o cenário econômico utilizado como premissa para o cálculo pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico e Empresa de Pesquisa Energética ante o que espera o mercado. Contudo, para o planejamento da operação, esse otimismo demasiado não é visto como um problema, pois traz uma possibilidade de atender ao consumo caso haja uma recuperação repentina do consumo.
Como premissa básica está a redução da expectativa de crescimento econômico de 3% este ano e de queda de mais 2% no ano de 2016. Esses indicadores contrastam com o que projeta o mercado financeiro e que faz parte das previsões do boletim Focus, do Banco Central. Para esse ano, a perspectiva do setor financeiro é de queda do PIB de 3,68% ante o resultado de 2014.E como o consumo de energia tem uma relação direta com o desempenho da economia, é possível que os números apresentados no estudo estejam com um viés mais conservador, avaliou o consultor da Excelência Energética, Josué Ferreira.
Em sua análise, essa expectativa não pode ser vista necessariamente como uma previsão ruim, pois em termos de planejamento representa que os agentes responsáveis podem preparar o sistema para um cenário de consumo mais elevado ante a realidade, o que poderia dar uma folga ao sistema. “Apesar de uma melhoria recente na hidrologia ainda hoje estamos com a situação de reservatórios complicada. Escapamos de um racionamento justamente por queda da demanda. Se a projeção feita no final de 2014 para esse ano, de crescimento da carga em 3,2%, se confirmasse, não teríamos fôlego suficiente para suportar o crescimento econômico. Dificilmente nós sairíamos de uma restrição de carga caso a atividade da economia se mantivesse em alta”, afirmou Ferreira.
Segundo Ricardo Savoia, consultor da Thymos Energia, em termos de mercado físico, a projeção mais próxima da realidade é de um nível de demanda próxima de zero. “De alguma maneira, a previsão de carga divulgada permanece otimista. Nossa opinião é de que a carga no ano que vem se situará de 1% para baixo”, resumiu ele.
Ele lembra que essa análise está baseada nos números apresentados pelo desempenho dos três principais mercados e que, de uma maneira muito próxima, estão relacionados: o residencial, comercial e industrial. O executivo da Thymos lembra que o PIB industrial vem caindo fortemente enquanto o PIB comercial que já apresentou crescimento vigoroso ainda está no campo positivo, mas ainda assim próximo a 1,7%. Com a redução da atividade da indústria ainda em perspectiva negativa para 2016, é possível que o desempenho do comércio seja o próximo afetado. Até porque o consumo residencial já teve seu impacto com o aumento das tarifas de energia praticado nesse ano. Por isso, disse ele, a depender do primeiro trimestre de 2016 é possível que a revisão aponte para nova retração da demanda.
“É preciso ver se entre as premissas adotadas para o cálculo está considerada, eventualmente, uma grande entrada de carga. Porque se olharmos apenas pelas expectativas da atividade econômica do ano que vem, 1% de crescimento é uma estimativa otimista”, acrescentou Savoia ao indicar que consultorias econômicas e o mercado financeiro como um todo projetam PIB menor tanto esse ano quanto em 2016 ante o que esperam ONS e EPE.